Cultura

Ariano Suassuna defende Chico César e desconversa sobre o Nobel

Durante a entrevista coletiva que concedeu à imprensa paraibana no Hotel Caiçara na última quinta-feira (28) o escritor paraibano Ariano Suassuna deu uma aula de humildade e desconversou sobre a possibilidade de concorrer ao Prêmio Nobel de Literatura. “Eu nunca havia pensado nisso e nem me deslumbro com essa possibilidade, até porque não me considero com perfil para galgar esse prêmio”.

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Ariano louvou seus escritores prediletos, tais como o espanhol Miguel de Cervantes e se confessou satisfeito com o que alcançou até hoje. “Eu nunca fui muito ambicioso. Certa vez disseram por aí, que o ‘Auto da Compadecida’ ia ganhar uma versão produzida em Hollywood e coisa e tal. Mas eu fiquei feliz mesmo foi quando Guel Arraes fez o filme, até porque eles jamais iriam encontrar um Chicó como Matheus Natchegaele”, afirmou sorridente.

Para o autor de “O Romance da Pedra do Reino” um tema polêmico como a decisão do Subsecretário de Cultura da Paraíba, o compositor Chico César, que tem sido motivo de debate nos últimos dias na mídia paraibana, com repercussão nacional, é simplificado na observação de Ariano Suassuna de uma forma firme e aparentemente simples.

Suassuna recorda que quando foi Secretário de Cultura em Pernambuco esteve envolvido em algo parecido, e não vê problema em dizer que “estou com Chico César e não abro”. Para Ariano as bandas do chamado forró de plástico já tem o mercado de portas abertas para ele e “os artistas que fazem uma obra de teor cultural legítimo lutam para conseguir sobreviver”.

No entendimento do autor de “O Santo e a Porca” o Estado tem por obrigação fomentar a cultura, adiantando que esses artistas que fazem uma música meramente comercial não têm necessidade de lutar por espaços abertos pelo dinheiro público. Ariano Suassuna recorre ao episódio em que travou um embate ferrenho com o cantor Chico Science (líder do movimento Mangue Beat falecido de forma prematura em um acidente automobilístico) e nunca se arrependeu de ter dado a cara à tapa naquele momento. “Eu nunca tive nada pessoal com o Chico Science, mas a música dele, do grupo Nação Zumbi, já tinha a mídia aberta para ele”.

“Gosto de Chico César! Estou com ele e não abro”, concluiu Suassuna que lembrou na ocasião o fato de grupos como o Quinteto da Paraíba e do compositor Eli-Eri Moura, por exemplo, padecerem do mal que é a falta de visibilidade enquanto essas bandas que fazem uma música de qualidade fraca “enriquecem à custa dos espaços que, no meu entendimento, não fazem por merecer”.

Rasgando elogios a Sivuca, Ariano Suassuna lembrou o quando o autor de “Rapsódia Gonzagueana” sofreu antes de conquistar o mundo. “Eu vi o Sivuca ainda menino, tocando no meio da rua para ganhar uns trocados; e eu várias vezes lhe dei dinheiro quando passava por ele. Vejam que absurdo. E o Sivuca precisou ir para fora do Brasil para poder ter sua genialidade reconhecida”.

Sobre a homenagem que recebe do Sindicato dos Bancários da Paraíba (SEEB-PB) o poeta (para quem não sabe a sua antologia poética é fenomenal), dramaturgo e romancista se disse emocionado e agradecido. “Eu nem sei se mereço tanto, acho que Deus foi bondoso comigo. Mas fico feliz em ter meu trabalho reconhecido pelos meus conterrâneos”.
 

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