Em 1975, José Nêumanne Pinto era repórter especial do Jornal do Brasil em São Paulo quando foi escalado pelo diretor Walter Fontoura para a seguinte missão: dar início à série 'Perfil do Operário Brasileiro Hoje', pauta que mais tarde lhe renderia o Prêmio Esso de Jornalismo Econômico.
Numa visita ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, um sujeito marrento, com barba por fazer e um 's' sibilante na voz, chamou a atenção do repórter ao lado de Paulo Vidal, então presidente do sindicato.
“Quando conheci Lula, ele era um pau mandado de Paulo Vidal e um dos meus piores entrevistados, daqueles que a gente tem que inventar o que ele vai dizer na matéria”, lembra Nêumanne. “Anos depois, já à frente dos sindicalistas, Lula era outra pessoa, liderando a famosa 'greve dos braços cruzados' da Scania”, diz ele, se referindo à lendária paralisação dos funcionários da Scania Vabis (hoje Scania Latin América), ocorrida em 1978.
“Meu engano foi ter acreditado que Lula seria apenas um grande líder sindical no futuro”, afirma Nêumanne, que lança amanhã, em João Pessoa, e sábado, em Campina Grande, O Que Sei de Lula (Topbooks, 522 páginas, R$ 69,00), obra na qual o jornalista tenta, em suas palavras, “descascar a cebola das teorias políticas acerca do ex-presidente”.
DIVIDINDO OPINIÕES
O livro tem dividido opiniões. “A direita me acusou de ter me vendido ao PT e a esquerda tem dito que eu estou defendendo as teses da direita troglodita”, argumenta o autor. “No caso da direita, posso compreender a implicância diante de uma das verdades que eu escrevo no livro: Lula foi o maior self-made man da história do capitalismo, um homem que saiu de um pau de arara em Caetés (PE) para subir nos coches da monarquia britânica. Lula também foi o maior líder político da história do Brasil, o que não é necessariamente um elogio já que todo mundo sabe que não tenho políticos em alta conta”, completa.
“No caso da esquerda, ela se incomoda por eu mostrar que Lula não tem emoções, só interesses. Que seu verdadeiro mérito foi converter seus próprios erros em acertos e que, depois de conciliar alas inconciliáveis do PT, ele se uniu à direita fundamentalista e a toda a escória da política nacional, como Severino Cavalcanti e Fernando Collor de Mello”, dispara Nêumanne.
Entre os equívocos oportunamente corrigidos por Lula, estão, segundo Nêumanne, o desagrado ao Plano Real e à anistia aos exilados: "Depois de todo o seu discurso contrário, Lula não só fez um governo de exilados como elegeu uma ex-guerrilheira que colhe até hoje os louros do Plano Real, que foi o que realmente baixou a inflação e colocou proteína na mesa do trabalhador".
Para o escritor, a verdadeira imagem de Lula é a do homem comum, imagem que ilustra perfeitamente a realidade do país que ele representou. "Lula foi um 'bunda suja' que subiu ao poder", polemiza. "É um beberrão, um ignorante que se orgulha de sua própria ignorância. Um homem que, como na foto da capa do livro, brinca com o carrinho que não teve na infância. O filho de um canalha com uma santa, como a maioria do povo deste país que nunca teve pai".
Jornal da Paraíba