José Lacerda fala dos bastidores do governo Cássio e revela seu maior sonho e sua pior frustação
O ex vice-governador da Paraíba, José Lacerda (PSD), concedeu entrevista exclusiva ao portal MaisPB e faz várias revelações sobre os bastidores do governo Cássio Cunha Lima, do mundo político paraibano, da sua vida pessoal e dos projetos para o futuro.
José Lacerda abriu o coração durante entrevista e revelou uma de suas maiores tristezas como homem público. Segundo José Lacerda, que já exerceu 11 mandatos de deputado estadual na Assembleia Legislativa, ele poderia ter disputado uma vaga na Câmara Federal, mas optou ser vice de Cássio Cunha Lima, pois sabia que o tucano no final do mandato iria se licenciar para disputar uma cadeira no Senado e, sendo assim, ele assumiria definitivamente o mandato de governador, encerrando com chave de ouro sua vida pública. “Eu não tive essa oportunidade de assumir o Governo do Estado como titular, em função do afastamento de Cássio. Eu senti esta frustração, porque estava pertinho de ver meu sonho alcançado”, desabafou Lacerda ao lembrar que já tinha ocupado a cadeira de governador por seis vezes, mas de forma interina. O ex-deputado disse ainda que Cássio foi vítima de um “sistema” que acabou colocando por terra o que ele tinha combinado com o ex-governador. “O nosso plano traçado tornou-se numa frustração”, disse.
Leia a entrevista na íntegra.
MaisPB – Quem é José Lacerda Neto?
José Lacerda Neto – Um homem de origem humilde. Filho de agricultor do sertão que após concluir o ginásio em uma escola de Cajazeiras tive que me descolar para João Pessoa para dar continuidade aos estudos, já que não existia, na época, nem o clássico nem o cientifico em cajazeiras. Conclui o clássico e fiz vestibular para Direito em 1967 e me formei em 1971. Já formado, me elegi prefeito de São José de Piranhas. Dois anos depois me candidatei a deputado estadual e fui eleito. Terminei o mandato de prefeito exercendo o mandato de deputado estadual ao mesmo tempo. Me elegi deputado por 11 vezes. Posteriormente me elegi vice-governador juntamente com Cássio que foi candidato a governador. Tive o mandato cassado juntamente com de Cássio, não foi por corrupção. Com o mandato de vice-governador, eu completei 13 mandatos sucessivamente, sem perder nenhuma eleição e me elegendo sempre entre os cinco e muitas vezes o mais votado, em todas as eleições.
MaisPB – O que foi mais doloroso para o senhor, perder o cargo de vice-governador ou assistir uma amigo ser execrado injustamente?
José Lacerda Neto – Eu confesso que não sofri nenhuma crítica forte quando perdi o mandato de governador, porque na verdade o voto do vice é um voto que está ligado ao do governador e a minha cassação foi em função da cassação de Cássio. Mas, eu não quero com isso transferir nada a respeito da posição que Cássio tomou. Eu o acompanhei e sei que ele foi correto. O que ele fez em defesa dos menos favorecidos é a política que está sendo adotada atualmente pelo Governo Federal e por todos os governadores. Cássio Foi vítima de um sistema. Eu confesso a você que senti mais pela perda da oportunidade de assumir o Governo definitivamente, embora tenha sido seis vezes. Mas, assumi de temporariamente em função do afastamento de Cássio para cumprir algumas obrigações fora do Estado. Eu senti por ter perdido a oportunidade de concluir minha vida pública como governador, porque Cássio se afastaria dez meses antes para disputar o mandato de senador e eu não tive essa oportunidade de assumir o Estado como titular, em função do afastamento de Cássio. Eu senti esta frustração, porque estava pertinho de ver meu sonho alcançado. Eu poderia ter me elegido deputado federal, pois fui eleito deputado estadual muitas vezes com a votação superior aos dos deputados federais. Mas, preferir esperar uma oportunidade para ser vice-governador e consequentemente assumir o Governo do Estado. Este foi o nosso plano traçado e tornou-se numa frustração
MaisPB – O senhor acredita que se tivesse assumido do Governo na época sairia candidato à reeleição em 2010?
José Lacerda Neto – Eu não sei, porque dentro dos entendimentos nós tínhamos compromissos. Havia uma aliança do democrata, o partido ao qual eu pertencia com o PSDB, com Cássio, consequentemente com Cícero e com esse grupo. Além de outros partidos que se aliaram a Cássio Cunha Lima. Então, eu não sei se disputaria uma reeleição ou se nós partiríamos para um candidato. Eu acredito que nós partiríamos para um candidato que poderia ter sido do senador Efraim Morais que estava pleiteando na época ou mesmo ter apoiado Ricardo Coutinho como aconteceu na eleição passada.
MaisPB – A decisão de Cássio apoiar a candidatura de Ricardo Coutinho a governador foi tomada entes ou depois da cassação?
José Lacerda Neto – Depois da cassação, porque até ai Ricardo era aliado de Maranhão. Todos nós sabemos que Maranhão teve muita influência na cassação de Cássio e consequentemente na minha, não tínhamos como nos aliar a Maranhão. A partir daí teve o rompimento de Ricardo com Maranhão ou de Maranhão eu não e nós decidimos apoiar Ricardo Coutinho. Porque nós sabíamos que Maranhão era forte, sobretudo estando à frente do Governo do Estado. Mas nós poderíamos ter lançado o senador Efraim Morais, como era o nosso propósito e nosso desejo se as coisas estivessem corrido normalmente. Mas, como isto não aconteceu… À política é uma atividade muito dinâmica e ela muda de uma hora para outra. Se espera uma coisa e o resultado é outro. Então, eu acredito que não disputaria a reeleição e, poderia disputar se meu nome estivesse bem nas pesquisas e se fosse de consenso com os democratas e os partidos aliados. Mas, não estava dentro dos meus projetos reeleição nenhuma. O que estava nos meus projetos era cumprir aqueles compromissos que nós já tínhamos assumido antes da cassação de Cássio.
MaisPB – Eu sei que sua filha já é grandinha para decidir seu futuro, mas um coração de pai sempre tem sonhos para o seu filho. Diante disto, eu pergunto a este coração: O que Raíssa deveria ser depois de vereadora?
José Lacerda Neto – Eu espero que ela consiga sua reeleição. Ela tem feito um trabalho, poderia até dizer brilhante. Eu tenho sido parabenizado por onde eu passo. Muitas pessoas entusiasmadas e otimistas com a reeleição dela e até isto acontecer o furo a Deus pertence.
MaisPB – Qual foi o maior problema que o senhor já enfrentou na vida?
José Lacerda Neto – O maior problema que eu enfrentei na minha vida foi quando fizeram uma denúncia de caráter político e atingiu o meu filho José Lacerda Júnior. Imputaram a ele um crime de uma moça que ele não conhecia. No dia que foi imputado esse crime, ele estava em casa. É uma coisa que eu não gosto de relembrar. É uma coisa que mexe ‘bole’ com minha alma, com o sofrimento que eu vivi na época. Mas, graças a Deus a Polícia Federal que foi acionada, veio para João Pessoa e ficou aqui durante três meses até que desvendar o crime e a justiça excluiu o meu filho da imputação de um crime que ele não havia cometido. Isto abalou muito com a estrutura não só minha, mas da família também.
MaisPB – Que crime foi este, foi assassinato?
José Lacerda Neto – Foi assassinato sim.
MaisPB – Quando foi?
José Lacerda Neto – Em 1990. As datas ruins e boas à gente não esquece e esta foi a pior da minha vida. Se ele tivesse praticado, mas tanto é que ele não fugiu. Eu entreguei ao juiz. Foi preso. Passou sessenta e poucos dias preso e eu aguardei os fatos, a investigação da Polícia Federal que foi chamada, porque a polícia estadual também estava envolvida. Não a polícia, mas uns elementos da polícia estadual estavam envolvidos por interesses de grupos para acusar meu filho. Porque antes da acusação do meu filho a polícia falava quatro, cinco nomes, mas de uma hora para outra imputaram ao meu filho. Mas, graças a Deus tudo acontece como Deus quer. Eu tinha que passar por esta provação, eu tinha que passar por esta provação e passei. Mas ‘buliu’ muito como meu filho que fazia o oitavo período de Direito. Ele não terminou mais o curso, não terminou mais o curso e nós sofremos muito, sofremos muito. O importante é que ele foi absolvido por unanimidade pelo Tribunal de Justiça, por unanimidade e o elemento que praticou o crime foi preso. Não só foi preso, mas confessou o crime com detalhes.
MaisPB – Quais são os planos dos PSD para João Pessoa?
José Lacerda Neto – Eu ajudei a fundar o partido aqui no Estado. Eu, Rômulo Gouveia, Manoel Ludgério e Raíssa, minha filha, nós trabalhamos para fundar o PSD aqui na Paraíba. Raíssa foi escolhida como presidente do partido aqui em João Pessoa. Nós sabemos que o partido aqui tem um compromisso com o Governo do Estado. O PSD já nasceu com este compromisso. O deputado Rômulo Gouveia, juntamente comigo, nós assumimos este compromisso de apoiar o Governo do Estado e consequentemente de apoiar Luciano Agra para prefeito da Capital. Mas, em política tudo pode acontecer. Em política tudo pode acontecer. O meu propósito é me manter nesta aliança. Manter o apoio dos meus amigos a candidatura de Luciano Agra a prefeito da Capital. A não ser que Agra empate superveniente e justifique o motivo para o partido se retirar desta aliança. Mas, eu não acredito nisso, eu falo assim porque em política tudo é possível.
MaisPB – O senhor é um homem maduro com quase 52 anos de vida pública e 13 mandatos. Baseado nesta experiência, em sua opinião qual o desfecho na novela de Cássio e Cícero?
José Lacerda Neto – Olha, é muito difícil a gente falar. É muito difícil a gente fazer uma previsão. Pela a história de Cássio, eu acredito que ele consiga conciliar os seus interesses e os interesses de Cícero sem ser preciso brigar. O que eu sei é que Cássio quer apoiar Luciano Agra. Cícero diverge por razões que o próprio confessa a imprensa. Desde o início da administração do prefeito Ricardo Coutinho, quando prefeito, que eles se desentenderam.Há um problema pessoal entre os dois que nós não queremos interferir. Agora, eu concordo com Cássio que deva se manter a aliança que foi definida com a eleição de Ricardo para governador e a eleição de Cássio para senador. Agora, são dois homens maduros, inteligentes, Cícero e Cássio vão encontrar uma saída é possível. Eles vão encontrar uma saída. Eu acredito que Cícero renuncie a alguns interesses dele e Cássio também possa renunciar e os dois cheguem a um denominador comum.
MaisPB – Em sua opinião, qual a maior liderança política da Paraíba?
José Lacerda Neto – Cássio Cunha Lima.
MaisPB – Quem pior representa a classe política paraibana?
José Lacerda Neto – Eu não vou falar porque mostro que guardo rancor. Mas, pela resposta você já sabe a pessoa a que me refiro. Quem prejudicou o meu futuro.
MaisPB – O que o senhor tem a dizer de José Targino Maranhão, a pessoa que prejudicou o seu futuro?
José Lacerda Neto – (Rindo) O que é que eu tenho a dizer? Como é? Eu espero que ele viva muito, para que ele possa acompanhar as vitórias de Cássio e as vitórias de Raíssa, que são minhas também. O que eu desejo é que ele viva muito para acompanhar essas vitórias que nós sabemos que nós acreditamos que vamos conquistar com a vontade do povo.
Fonte: MaisPB