Houve apenas um consenso na convenção realizada pelo PSDB em Campina Grande: o deputado federal Ruy Carneiro permanece na presidência do diretório regional do partido. Fora daí, o evento foi marcado por um coro de vozes dissonantes em relação às eleições do próximo ano. Houve quem defendesse a continuidade da aliança com o PSB em apoio à reeleição do governador Ricardo Coutinho. Houve quem propusesse o lançamento de candidatura própria ao governo. Foi o caso do senador Cícero Lucena e do deputado Ruy Carneiro. Cássio Cunha Lima, que é a jóia da coroa tucana cobiçada para disputar novamente o Palácio da Redenção, procurou passar ao largo dessa polêmica. Ele quer manter o compromisso com Ricardo desde que o governador ceda duas vagas ao PSDB, a de vice e a de senador.
Ao propor candidatura própria, Cícero Lucena chegou a recordar sua iniciação na política, conduzido pelo ex-governador Ronaldo Cunha Lima, de quem foi vice na chapa para as eleições de 90, que derrotou nas urnas o ex-governador Wilson Braga e o ex-deputado federal João Agripino Neto. Cícero falou, num tom nostálgico, da época em que havia mais afinidade entre peemedebistas que depois migraram para o ninho tucano, com a hegemonia implantada por José Maranhão naquela legenda. A rememoração daquele cenário foi a forma que Cícero encontrou para dar guarida à tese da candidatura própria a governador dentro do PSDB. Uma outra divisão envolve a candidatura tucana a senador. Cícero espera ser agraciado com o direito “nato” de postular a reeleição, ainda que esse direito “nato” seja relativo porque não constitui uma imposição dentro das hostes dos partidos. O senador, na verdade, buscou sensibilizar os tucanos para que lhe fornecessem mais um crédito de confiança na batalha que se avizinha. O problema é que o vice-governador Rômulo Gouveia, dirigente do PSD, também planeja concorrer ao Senado na coligação encabeçada por Ricardo Coutinho.
O deputado Ruy Carneiro salienta que a hora é de trabalhar pelo fortalecimento da legenda para que ela se credencie a vitórias expressivas no próximo ano, daí a iniciativa em anunciar uma ofensiva que será ecoada nas redes sociais. Preocupa-se, também, o parlamentar, em fomentar filiações ao PSDB, para reforçar a musculatura da legenda em centros estratégicos do interior do Estado. Carneiro, particularmente, considera que o lançamento do senador Aécio Neves como candidato próprio a presidente da República, impõe a reprodução desse desenho nos Estados, avaliadas as chances dos prováveis postulantes. Mas ele reconhece que a definição pode demorar, pois está condicionada ao esgotamento de fórmulas alternativas e até de pesquisas de opinião pública para consumo interno.
Cássio tem sido obrigado, constantemente, a reiterar que não pretende ser candidato ao governo no próximo ano. Os adversários suspeitam que a sua inapetência tem a ver com dúvidas jurídicas sobre a possibilidade de concorrer, uma vez que ele foi alcançado pela Lei Complementar 135, a Lei da Ficha Limpa. Advogados como Johnson Abrantes já externaram o ponto de vista de que Cunha Lima não seria atingido pelo dispositivo caso resolvesse encarar a parada sucessória. Mas o senador não abre a guarda no sentido de estimular essa versão do “queremismo” em torno do seu nome. O discurso proferido na convenção em Campina Grande foi pontuado por críticas ao governo federal, especialmente à presidente Dilma Rousseff. O senador teve a oportunidade de testar o pulso dos aliados na sexta-feira quando esteve em João Pessoa para receber o título de Cidadania, proposto pelo vereador Raoni Mendes, do PDT. Mas não foi categórico quanto a assumir uma eventual postulação. Para ele, tudo dependerá de consultas que serão aprofundadas, levando em conta a correlação de forças no cenário paraibano.
Independente das divisões, os tucanos vão deflagrar a ofensiva de interiorização da agremiação, mediante debates com lideranças de cidades influentes sobre os problemas das cidades e auscultando informalmente essas lideranças sobre suas expectativas com relação ao pleito do próximo ano. Ruy não confirma os rumores sobre um provável remanejamento seu para ser candidato ao Senado, admitindo que Cícero teria prioridade e que essa solução pacificaria correntes internas. Mas ele se mantém sintonizado com as reivindicações das bases, e levará essas reivindicações ao debate dentro do PSDB no momento oportuno, conforme deixou claro.
Da redação com Polêmica PB