Juazeiro do Norte. São mais de 12 livros publicados e cerca de 30 mil crônicas escritas, para serem lidas no rádio ou publicadas em jornais, passando um legado de quem vivenciou a história e o desenvolvimento da maior cidade do interior do Estado. O jornalista Geraldo Menezes Barbosa é o único escritor contemporâneo do Padre Cícero, que mesmo aos 10 anos de idade, lembra até hoje de todos os momentos em que esteve com o sacerdote.
No último dia 6 de junho, completou 90 anos, ainda em plena atividade intelectual, com as crônicas diárias. Seus livros, em maioria, estiveram voltados para a literatura e a história de Juazeiro do Norte. Suas primeiras experiências com o jornal, veio de vivência na gráfica do pai, José Barbosa dos Santos, que imprimia o jornal semanal, Juazeiro do Cariri, editado pelo médico e amigo do Padre Cícero, Floro Bartolomeu. "Era um universo que eu gostava de participar e ali estava um personagem de um momento importante da cidade", diz ele.
Além de jornalista, filiado desde 1948 na Associação Cearense de Imprensa (ACI), ele é odontólogo e ainda exerce, mesmo atualmente sem tanta intensidade, a profissão. Mas a sua grande paixão mesmo esteve voltada para os registros da história da cidade, em que teve o privilégio de conhecer um homem que considera santo e que foi bastante injustiçado, como o Padre Cícero. "Ele é um padre santo e Juazeiro é hoje uma terra santa", diz Geraldo Barbosa.
Milagre
O escritor destaca o milagre da beata Maria de Araújo como responsável por erguer Juazeiro do Norte. Faz uma relação da cidade cearense com Jerusalém, onde o sangue de Jesus foi derramado, para a redenção dos pecados, e em Juazeiro, do sangue na boca da beata para anunciar a presença de um homem que trouxe a visão da transcendência e espiritualidade. Ele lembra que foram mais de 200 vezes que o sangramento se deu na boca da religiosa. O fenômeno até hoje é alvo de estudos de antropólogos, sociólogos e vários outros especialistas de diversas partes do Brasil e do mundo. Ele mesmo já chegou a receber diversos desses estudiosos em seu consultório, na Rua Padre Cícero.
Geraldo Barbosa já presenciou fatos intrigantes relacionados à fé vivenciada por milhares de romeiros, casos relacionados a questões de paranormalidade, a exemplo de Maria Raio X, da qual escreveu um livro. Num desses, ele conta que chegou ao seu consultório um rapaz de Recife, no Pernambuco, que queria arrancar um dos seus dentes, inclusive saudáveis.
Ao estranhar a atitude do rapaz, foi surpreendido com a reposta de que o pernambucano veio à terra do Padre Cícero para deixar uma parte de si, resultado de uma promessa alcançada pela mãe quando pediu pela saúde do moço.
Testemunhos
De qualquer forma, recebeu o conselho de um amigo, que seria melhor tirar um dos seus dentes. O que, para o dentista, seria uma alternativa menos dolorosa do que tirar outra parte do corpo. "Esses são testemunhos fortes de situações vivenciadas", frisa Geraldo Barbosa.
Na última sexta-feira, ele recebeu amigos e autoridades locais para comemorar nove décadas. Recentemente sentado sobre um baú que pertenceu ao Padre Cícero, o jornalista lembrou do seu último momento na casa do sacerdote, quando a família decidia ir para o Crato. A conversa era de adultos, entre seu pai e o Padre, e ele sentado sobre o baú, ficou aos cochilos.
Vendo as romarias crescerem ao longo dos anos, principalmente após a morte do Padre Cícero, Geraldo Barbosa destaca a força desse movimento da religiosidade popular no Nordeste. Ele afirma que a juventude não tem dado muita atenção, mas não consegue perceber que haverá um fim para esse movimento, que durará muitos anos.
"Há um foco voltado para o crescimento da cidade, mas há uma necessidade do fortalecimento da história, que é bem recente e não há com apagar isso", avalia.
A profecia do Padre Cicero, de crescimento e destaque de Juazeiro no cenário nacional, conforme Barbosa, se cumpre. "Para mim, um dos pontos gloriosos da minha biografia foi ter feito contato com um mito. Estive com ele (Padre Cícero) uma meia dúzia de vezes", lembra. E quanto ao reconhecimento do sacerdote pela igreja, ele disse que o Vaticano não vai se preocupar com uma figura que foi combatida pela alta cúpula da igreja.
No dia 20 de julho deste ano, serão lembrados os 80 anos de morte do Padre Cícero. Geraldo Barbosa faz uma descrição do momento da despedida do sacerdote de uma grande multidão inconsolada com a perda do seu líder e conselheiro. "A multidão, para ele, parecia um mar de cabeças escuras e nele flutuando um barquinho azul. Era o Padre Cícero que ia ali". A imagem jamais foi esquecida. (E.S)
FIQUE POR DENTRO
Escritor iniciou carreira como jornalista
Contemporâneo do Padre Cícero, Geraldo Barbosa nasceu em 6 de junho de 1924, 10 anos antes do falecimento do Padre Cícero, que faleceu aos 90 anos. Aos 17 anos, ingressou como revisor do jornal Correio do Ceará, em Fortaleza, dirigindo pelo jornalista João Calmon. Em Juazeiro do Norte, fundou o jornal Correio de Juazeiro, no ano de 1949 e realizava a sua atuação de cronista diário, do Centro Regional Alto Falante, iniciado em 1944. O comentário de Geraldo Menezes Barbosa continua como crônica diária desde 1942, na cidade. Mesmo se ausentando da cidade, deixa as suas crônicas sempre gravadas. Chegou a dedicar mais de 50 anos de sua vida ao ensino secundário, como professor e diretor da Escola Técnica do Comércio de Juazeiro do Norte, além de outras disciplinas em escolas da cidade. Atividades em vários segmentos da sociedade e entidades representativas, de classes, foram exercidas pelo escritor, que publicou 12 livros, principalmente como registro da história de Juazeiro e do Padre Cícero. São mais de 30 mil crônicas produzidas.
Mais informações:
Consultório Geraldo Barbosa
Rua Padre Cícero, 253 – Centro
Juazeiro do Norte
Telefone (88) 9965.9230
Fonte: Diário do Nordeste