Foi nessa casa de pau a pique, hoje desabitada, que Luiz Gonzaga encontrou a família quando chegou a Exu em 1946, depois de 16 anos afastado. A história de sua recepção ele mesmo contou, falando na música Respeita Januário.
“Agora sou artista, dezesseis anos que eu não vejo o velho. Só quero fazer um desafio a ele, pra ver se ele me reconhece. Cheguei no sertão de madrugada, na minha casa velha. Frente a frente com ela. Espiei umas coisas, espiei outras. Tudo como antigamente. E eu pensando: dezesseis anos que meu pai não ver, é agora. Ô de casa, ô de casa. Ninguém. Aí me lembrei do prefixo:
– Louvado seja Jesus Cristo!
– Para sempre seja louvado.
– Seu Januário?
– Sim senhor.
– Tô vindo do Rio de Janeiro, seu Januário. Trago um recado do filho do senhor. Mandou até uma coisinha pra colocar na sua mão! Quando vier, trago logo um copo d’água pra eu, que tô morrendo de sede.
Fiquei olhando pela venda da janela. Aí vi o velho acender o candeeiro. Clareou tudo. Ai escutei o resmungado do caneco lá no fundo do pote. Aí vem o velho, corredor afora, na minha direção, chegou bem na janela que eu tava. Abriu a janela, levantou o candeeiro acima da cabeça pra clarear a minha cara e perguntou:
– Quem é o senhor?
– Luiz Gonzaga, seu filho!
– Oxen…isso é hora de você chegar em casa, seu corno? Santana, Gonzaga chegou….eita menino abusado!
Vi irmão que eu não conhecia, ninguém dormiu mais naquela noite. Até de manhã, a casa já cheia: “Canta Luiz, canta pra nós ver, Luiz!”
Fonte: Diário de Pernambuco