Convivência com a seca: barragens subterrâneas são apresentadas a gestores do Alto Sertão paraibano
Pelo menos 2,3 mil comunidades das quase 200 cidades paraibanas em estado de emergência na Paraíba poderão conviver com a seca e permanecer no campo produzindo. É o que garante uma política pública apresentada aos 47 gestores públicos da região polarizada por Sousa, na manhã desta terça-feira (21), no auditório do IFPB na cidade, pelas secretarias de Desenvolvimento e Articulação e Agricultura Familiar e do Desenvolvimento do Semiárido. Foi repassado o processo de adesão ao Plano Emergencial de Enfrentamento à Estiagem, bem como a definição de quantas barragens cada município receberá.
Para o secretário de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento do Semiárido, Lenildo Morais, essa é uma ideia simples e que precisa apenas do apoio técnico e de investimentos parceiros dos governos do Estado e dos municípios para ser implementada e ajudar os agricultores que enfrentam o desafio de sobreviver às secas cíclicas e à escassez de água até para o consumo humano e animal.
Participaram da reunião os prefeitos de Brejo do Cruz, Ana Maria Dutra; de Cachoeira dos Índios, Francisco Dantas; representante da Emater da região de Sousa, Assis Bernardo; representante do Orçamento Democrático, Anderson Morais; os secretários de agricultura de Jericó, Glauber Antônio; de Bonito de Santa Fé, Luis Fernandes; de Brejo do Cruz, Abraão Alves; Cajazeiras, Francisco Arcanjo; Poço José de Moura, Jânio Francisco de Oliveira; Pombal, Clécio Monteiro; Santa Cruz, Severino Gomes; São Bento, Danilo Ramalho; São Domingos, Rodrigo José da Nórega e São José de Piranhas, José Nildo Mendes.
Quem falou pelos prefeitos e também elogiou a iniciativa de realização da capacitação e ação do Governo do Estado em construir essas barragens foi a prefeita de Cajazeiras, Denise Albuquerque. Ela disse que o povo de Cajazeiras aguardava ansioso para receber as orientações para a implantação dessas barragens. “Essa é mais uma política de enfrentamento a estiagem que estamos vendo o governo implantar. Só tenho a agradecer aos técnicos que nos deram todos os detalhes para essa parceria que a prefeitura ira fazer com o Governo do Estado”, afirmou.
O secretário Lenildo Morais informou ainda que o edital de licitação do programa de construção das barragens está aberto através do portal da secretaria de Articulação Municipal do Governo até o dia 10 de agosto. Para participar, os municípios precisam estar entre os critérios do programa, entre eles, ser uma das 197 cidades que por decreto governamental estão em situação de emergência. As solicitações dos agricultores a serem beneficiados têm que ter a aprovação dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável.
Entre os critérios também está a adesão da gestão municipal ao programa das barragens subterrâneas através da página online da Secretaria de Desenvolvimento e Articulação Municipal do Estado e ter a declaração de aptidão ao Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf).
Barragens subterrâneas – São estruturas simples feitas para barrar e armazenar a água das chuvas e dos riachos no interior do próprio solo. Cerca de 2 mil serão construídas com as máquinas e implementos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), segundo o secretário Lenildo Morais, e outras 300 serão implementadas em parceria com o Projeto de Desenvolvimento Sustentável do Cariri, Seridó e Curimataú (Procase).
Junto às barragens e para ampliar a capacidade de utilização da água, serão construídos também poços amazonas e caixas dágua pré-moldadas. Lenildo explicou que o poço serve para retirar a água armazenada na barragem para ser utilizada em pequenas irrigações.
Ele acredita que com a técnica será possível ao agricultor plantar culturas que precisem de mais água, a exemplo do arroz e forrageiras. “Dependendo do tipo de cultura implantada pode-se ter mais de uma colheita no ano”, previu.
Na opinião do secretário, a garantia do suporte hídrico é o primeiro passo para o desenvolvimento sustentável das comunidades localizadas no semiárido. “Com a água, e a partir de tecnologias sociais multiplicáveis, poderemos aumentar a resiliência das unidades familiares de produção frente aos períodos de estiagem”, garantiu.
Como funciona – As barragens subterrâneas são construídas durante o período seco. São utilizadas lonas plásticas enterradas no subsolo dos leitos de rios e riachos para barrar o escoamento da água das chuvas que circula no solo.
A escavação deve ser perpendicular ao sentido da descida das águas até a profundidade onde se encontra a camada mais dura do subsolo, normalmente chegando até quatro metros de profundidade. Dependendo das condições do terreno, a vala cavada pode se estender entre 30 e 100 metros. Nela é estendida a lona plástica com 200 micas de espessura e, em seguida, é coberta com a terra originária da própria escavação.
A impermeabilidade implantada na vala irá barrar e armazenar a água no subsolo, diminuindo também a evaporação. Com a técnica, a área se transforma numa vazante onde a umidade permanece por meses. O resultado é que os agricultores poderão cultivar mesmo em períodos de seca e estiagem prolongados.
Além da agricultura familiar, a pecuária de subsistência também poderá ser beneficiada com o cultivo de forragens e com o armazenamento de água para alimentar o rebanho.