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Paraibano Hulk ataca como super-herói na Rússia

O incrível Hulk atacou na Rússia nas últimas semanas. Não que um monstro verde tenha deixado os quadrinhos para aterrorizar a população local e virar notícia em uma página de esportes. Na verdade, não passou de uma ação de marketing do Zenit cujo protagonista foi o atacante brasileiro que ganhou o apelido com o nome do gigante. Foram seis vídeos divulgados pelos russos desde o início do mês que demonstram como o jogador virou referência no clube tanto dentro quanto fora dos gramados. A experiência como ator agradou o atleta de 29 anos, mas ele garante que o negócio dele é outro.

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– A gente tenta (risos). É mais fácil jogar futebol – disse o atacante, ao ser questionado se gostou da função atrás da câmera, em entrevista por telefone ao GloboEsporte.com.

Com vídeos que brincam com a força do atacante, que quebrou paredes e portas (assista aqui), a ação de marketing promovida pela companhia russa de energia que patrocina o Zenit e por uma empresa de energéticos repercutiu bem. Ao menos, é o que mostra o número de visualizações no canal oficial no Youtube. O vídeo mais popular, em que Hulk derruba um companheiro do banco ao amarrar sua chuteira, deu quase cinco milhões de acessos.

– Repercutiu muito bem, não só na Rússia, mas também em outras partes do mundo. Com uma ou duas semanas, já tinha mais de três milhões de visualizações. Todos ficaram legais. Acho que o chute forte, aquele que a bola estoura, e o que o goleiro cai dentro do gol. É a minha marca, o chute forte.

Nos vídeos, é possível perceber um Hulk à vontade com o elenco do Zenit. Uma mudança significativa em três anos de casa. Quando chegou na Rússia, em 2012, teve problemas, segundo o próprio, motivados por ciúmes de jogadores insatisfeitos com os valores envolvendo sua transferência, avaliada em € 60 milhões (cerca de R$ 153 milhões, na cotação da época). Nesse período, o racismo das arquibancadas também foi um problema, algo que ele encara de uma maneira diferente atualmente.

– Agora não fico tão chateado. Brinco e mando um beijo. Se tentar responder à altura, o prejudicado sou eu – disse Hulk, goleador do Campeonato Russo na temporada passada e que vai liderando a artilharia também nesta edição, após ter marcado três vezes em duas rodadas.

A entrevista com o atacante durou 30 minutos e, além de explicar a ação de marketing, o atacante explicou a ausência no sorteio das eliminatórias para a Copa do Mundo, em evento promovido pela Fifa no sábado. Também falou sobre a adaptação na Rússia e fez uma breve avaliação de como vê, de longe, o futebol brasileiro atualmente.

Leia a entrevista na íntegra abaixo:

GloboEsporte.com: como surgiu a ideia de produzir esses vídeos promocionais?

Hulk: Tenho contrato com o Zenit, que tem patrocínio da Gazprom. Ações como essas divulgam a imagem da empresa. Só depois me falaram como seria. Achei que ficou bacana, bem feito. A equipe aqui é top.

O Zenit talvez seja o clube com maior poderio financeiro na Rússia, muito por conta do dinheiro da Gazprom. Como funciona a parceria? Até que ponto eles influenciam dentro do clube? Tem alguma semelhança com a parceria que a Unimed tinha com o Fluminense?

É uma empresa russa, que patrocina o Zenit, que banca o Zenit. É uma empresa muito grande, os proprietários gostam muito do Zenit. Eu acredito que tem um pouco disso (semelhança da antiga parceria entre Fluminense e Unimed). Só que aqui é tudo feito pelo clube, lá parece que a Unimed ajudava a pagar os jogadores. Não tem nada disso com a Gazpriom, que só é a maior patrocinadora do clube.

Pelos vídeos, já dá pra ver que você está à vontade dentro do clube, depois de um início meio complicado. O que mudou?

É verdade. No início foi um pouco complicado. Tinha o valor da transferência que causou um pouco de ciúme. Por conta do ciúme, estragou um pouco o clima. Estou muito bem adaptado agora. Todos estão muito bem adaptados, a comissão técnica também ajuda. Já tinha uma boa relação com o Villas Boas. Temos uma relação de amigos.

Com técnico português e companheiros de várias partes do mundo em um clube russo, como é a comunicação no dia a dia?

Entre nós, falamos português. No treino, coletivo é em inglês, com tradutor em russo. No dia a dia, falamos mais inglês.Pois é… é complicado, mas acaba sendo engraçado. Mistura um pouco de tudo: português, inglês, russo, francês, italiano…

Já morou no Japão, agora vive na Rússia… Fala quantas línguas?

– Um pouco de português nordestino (risos). Japonês sabia um pouco, mas esqueci algumas coisas. Já faz oito anos que não pratico. Sabia me virar no dia a dia. Acabei esquecendo muito. Inglês vou aprendendo um pouco, já dá para desenrolar. Russo é complicado, porque não falo muito russo. É uma língua complicada. Mas quando preciso falar russo mesmo vou com a tradutora.

Em diversas ocasiões, criticou o racismo na Rússia. Acha que a chance é grande de acontecer na Copa? É algo que tem como ser evitado?

Infelizmente, (o racismo) acontece muito aqui na Rússia. Acho que não só comigo. Eu ficava um pouco chateado com essas manifestações no início. Não deveria existir isso no mundo, independente de raça ou profissão. Agora não fico tão chateado. Brinco e mando um beijo. Se tentar responder na altura, o prejudicado sou eu. Se não estiver focado no jogo, pode perder a cabeça e se prejudicar mais ainda. Eu levo na esportiva agora. Estou nem aí. O Mundial envolve todo o mundo. Acho que não vai acontecer lá.

Jornais, como o inglês “The Guardian”, disseram que você não foi para o evento da Fifano sábado por conta dasdeclarações sobre racismo da Rússia. Como foi isso? Foi o Villas Boas que pediu para não ir por conta do jogo de domingo?

Pelo contrário, eu queria representar meu país e o Zenit. Seria bacana. Eu não fui devido ao calendário. São Petersburgo fica a três horas de viagem de avião (de Ecaterimburgo, local do jogo de domingo contra o Ural) e tem fuso, que é de duas horas a mais. Depois do treino pegamos o voo e chegamos oito horas da noite. O sorteio foi às 18h do horário daqui de São Petersburgo e, com o fuso, terminaria quase meia-noite do horário de lá. Ficaria corrido. Eu entendo a situação dele (do treinador do Zenit). O André pediu que fosse transferido o jogo, mas não foi. Eu iria tranquilo, mas tenho que colocar em primeiro lugar o trabalho.

Tem acompanhado a preparação da Rússia para a Copa? Muito diferente daquela que teve o Brasil?

No Brasil, estava acompanhando de longe. Quando eu cheguei no Brasil, já era para jogar o Mundial. Mas só não foi perfeito porque não ganhamos. Aqui, está evoluindo bastante. Estádios evoluindo bastante. Aeroportos bem adiantados. Apesar das dificuldades da economia, a Rússia tem muito dinheiro e está indo bem.

Dentro de campo, como avalia o futebol brasileiro atualmente?

O futebol brasileiro é o mais popular do mundo, o campeonato mais disputado do mundo. Tem oito, nove times que podem ser campeões. Bom de se jogar e assistir. Ainda estamos um pouco atrasados. Em termos de organização e estrutura é bem diferente. Eu joguei pouco tempo no Brasil. Foram dois jogos como profissional (pelo Vitória) e depois eu saí. Está um pouco atrás em termos de organização. Mas tem jogadores e clubes fortes em termos de qualidade.

Globoesporte

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