O projeto Biodigestor: energia e convivência com o semiárido, desenvolvido pela Rede de Cultivos Agroecológicos do Alto Sertão Paraibano, em parceria com o Instituto Frei Beda de Desenvolvimento Social e o Núcleo de Extensão Campo Solar, do IFPB/Campus Cajazeiras, ficou em primeiro lugar em um edital nacional de financiamentos, lançado no fim do ano passado pelo Fundo Socioambiental Casa. A iniciativa recebeu recursos no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) para a construção de nove biodigestores familiares em assentamentos integrantes da Rede de Cultivos Agroecológicos do Alto Sertão Paraibano, que através de um fundo rotativo solidário serão multiplicados para outras famílias assentadas.
O biodigestor é um equipamento usado para o processamento de matéria orgânica, a exemplo das fezes de animais, resto de alimentos, entre outros. Ele funciona como um reator químico em que as reações são feitas por bactérias, as quais digerem matéria orgânica em condições anaeróbicas (isto é, em ausência de oxigênio). Do processamento da matéria orgânica são produzidos o biogás e o biofertilizante.
De acordo com o professor Marcéu Adissi, membro do Núcleo Extensão Campo Solar, além do fortalecimento da estratégia de agroecologia e convivência com o semiárido pelas famílias assentadas, a construção dos biodigestores irá garantir a autonomia de combustível doméstico (biogás), reduzindo o custo familiar e a poluição causada pelo gás de cozinha convencional. Também será produzido o biofertilizante através da matéria prima de funcionamento do biodigestor, o esterco, o qual vem da própria criação de gado da família beneficiada, evitando a importação de insumos e favorecendo a produção agrícola.
O primeiro biodigestor foi construído no mês de maio, no assentamento Floresta, zona rural do município de Sousa. A família dos agricultores Genival Lopes dos Santos e Marlene Lopes dos Santos foi a primeira a receber o biodigestor. Dona Marlene prepara a maioria das refeições no fogo a lenha, principalmente devido ao preço do gás de cozinha, mas a realidade irá mudar.
“Eu vou usar menos o fogão de lenha e deixar o ‘bujão’ de lado. Os 50 reais que eu gastava com gás vai servir agora para comprar tempero, arroz e outras coisas de casa”. Conta a agricultora, que produz no próprio quintal a maioria das frutas e verduras que ela, o marido e as duas filhas consomem. Pode parecer pouco, mas a economia gerada pelo uso do biogás será muito representativa para aquela sua família.
A construção dos biodigestores é feita pelos próprios agricultores, sob a orientação do agricultor José Carlos da Silva, da Comunidade Riacho do Meio de Olivedos, agreste paraibano. Ele é responsável por ministrar as oficinas de construção, parte prática da capacitação oferecida através do Núcleo Campo Solar e o Instituto Frei Beda. A até o final do ano as nove famílias beneficiadas terão o equipamento instalado nas suas casas. Ao final do projeto, as instituições parceiras irão confeccionar uma cartilha sobre a construção dos biodigestores nos assentamentos.
*Lidiane Maria – Jornalista do IFPB/Campus Cajazeiras.