Embora seja natural do município de São José de Piranhas, foi na cidade vizinha, em Cajazeiras, que a Doutora Paula Francinete ficou conhecida em toda a Paraíba pelo seu trabalho desde 2017 junto à prefeitura, na Secretaria Municipal de Saúde. Pelo reconhecimento da população, a médica foi eleita deputada estadual e hoje ocupa uma das 36 vagas na Casa de Epitácio Pessoa.
Na Assembleia Legislativa da Paraíba, sua atuação estará diretamente ligada às comissões de Direitos da Mulher e da Saúde, Saneamento, Assistência Social, Segurança Alimentar e Nutricional, pelas quais é vice-presidente, além de ser membro da Comissão de Direitos Humanos e Minorias.
Neste Dia Internacional da Mulher, a deputada fala sobre o papel da mulher no combate ao feminícidio e reafirma sua luta pela diminuição da desigualdade de gênero na Paraíba.
Na sua trajetória profissional, você já ocupou cargos que, historicamente, não tinham mulheres em situação de protagonismo?
Doutora Paula: Numa sociedade machista, como a sociedade brasileira, em que o homem não consegue admitir o empoderamento das mulheres e usa de violência para torturá-las e diminuí-las, é difícil chegar a ocupar cargos de relevância no Brasil onde haja predomínio das mulheres. Infelizmente, isso não acontece. Há de se convir que na Assembleia Legislativa da Paraíba são 36 deputados e nós temos apenas cinco mulheres representando a Paraíba. Isso realmente mostra ainda o quanto a mulher é desvalorizada. E todas que procuraram seu empoderamento sempre foram massacradas pela sociedade machista e violentada pelos homens. Mas, o empoderamento das mulheres não vai mais diminuir. Aqui, nós temos que ter espaço. Precisamos ter voz e vez e é isso que a sociedade quer.
Como foi o desafio para ingressar na carreira política? Você, em algum momento durante a campanha, se sentiu em desvantagem com os candidatos do sexo masculino?
Doutora Paula: Em momento nenhum eu me senti em desvantagem. Primeiro, antes de decidir ser candidata a deputada estadual, eu fiz um trabalho na [Secretaria de] Saúde da cidade de Cajazeiras. Um trabalho que foi respeitado por 15 municípios da região do Sertão e reconhecido pelo estado da Paraíba, porque ter uma ideia de levar para Cajazeiras um Centro de Diagnóstico por Imagem com ressonância magnética, tomografia, densitometria óssea, ultrassom, raio-x e mamografia digital trouxe realmente um retorno.
E, como não bastasse, também já tenho 33 anos acompanhando [o prefeito de Cajazeiras] Zé Aldemir, que foi deputado estadual e federal. Sempre atuei nos bastidores, mas nunca deixei de estar atenta aos problemas que afligiam as pessoas mais pobres e mais carentes. Então, teve esse apoio, que eu não posso deixar de reconhecer, que foi em torno de quase 80% da minha votação transferida pelo ex-deputado e hoje prefeito da cidade de Cajazeiras.
A questão do feminicídio é um tema constantemente debatido. O que asenhora acha que pode ser feito para combater esse crime?
Doutora Paula: Existem vários fatores que a gente tem que se agarrar para poder ver se melhora. O feminicídio é a questão que o homem mata a mulher pelo simples fato de ela ser mulher. Então, isso não é possível mais. A gente está vendo na mídia nacional o quanto isso tem acontecido. Isso nos entristece, mas nós precisamos de atenção e que o Governo Federal, o Governo Estadual e o Ministério Público tenham um olhar muito sério voltado para essa questão, que é termos delegacias, por exemplo. A Lei Maria da Penha tem que realmente atuar com toda a seriedade. Vamos fiscalizar, vamos agir, essa é a maneira melhor para a prevenção. Claro que hoje o armamento é uma questão discutida, uma resolução do presidente Bolsonaro, mas que muito nos entristece, porque os feminicídios geralmente acontecem dentro do lar, dentro de casa. E o que é que acontece? O homem armado dentro de casa é uma forma de intimidar as mulheres até para fazerem a denúncia. Então, vamos estimular as mulheres a denunciar todos esses perigos que elas correm porque de uma ameaça acontece uma tragédia.
A senhora gostaria de deixar uma mensagem às mulheres paraibanas no Dia Internacional da Mulher?
Doutora Paula: O que eu quero dizer para todas as mulheres é que elas precisam acreditar no seu potencial. Elas precisam estudar, lutar, batalhar e vencer, porque vencer não é só para o homem, também é para a mulher, não existe gênero, não existe raça. Nós precisamos ter um espaço dentro da sociedade, dentro da Paraíba, dentro do Brasil e num universo que não tenha desigualdade entre homens e mulheres. Democracia é igualdade de sexo, de gênero, de raça e é isso que nós queremos: igualdade para todas as mulheres, nem mais e nem menos.