O Supremo Tribunal Federal pôs um fim à polêmica sobre tentativa de reeleição dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), proibindo o direito de ambos de permanecerem nos cargos. Nos meios políticos, principalmente, a avaliação é de que a decisão do Supremo zera o jogo na disputa, tanto na Câmara como no Senado. O deputado Rodrigo Maia negou que estivesse obcecado pela reeleição e garantiu que seu projeto era construir uma candidatura, um sucessor, tendo em vista que há muitos anos está na Câmara. Para consumo externo, a impressão que fica é a de apego de Maia ao poder e, mais ainda, de articulação ativa nos bastidores para assegurar o continuísmo. Agora, Maia abriu uma lista de prováveis candidatos à sua sucessão, da qual faz parte o deputado paraibano Aguinaldo Ribeiro, do PP. Mas, depois de ter recuado após articular bastante nos bastidores, a vitória de Ribeiro, a esta altura, seria uma zebra. Ele não é mais favorito no jogo.
O posicionamento ambíguo adotado por Rodrigo a respeito turvou qualquer sinal de nitidez da sua posição. O que ficou claro foi o empenho do presidente da República, Jair Bolsonaro, para impedir a reeleição, especialmente a de Rodrigo Maia. O candidato da preferência do Planalto, conforme a mídia sulista, sempre foi o líder do Centrão na Câmara, Arthur Lira, do PP-AL. Aguinaldo Ribeiro, ligado ao “Centrão”,tem sido listado como “linha independente” em relação ao governo de Bolsonaro. De acordo com uma matéria do UOL, Aguinaldo (irmão da senadora Daniella Ribeiro) não tem suporte no próprio partido. Há rumores de que Rodrigo, numa manobra para não sair perdendo tudo, passou a apostar fichas no nome de Marcos Pereira, do Republicanos-SP, que teria boa aceitação em diferentes partidos. Pereira igualmente passou a ser considerado independente em relação ao governo, pelo menos nos últimos meses e prega a renovação. Residualmente, há resistência pelo fato de o seu partido abrigar filhos do presidente da República, como o senador Flávio Bolsonaro e o vereador pelo Rio Carlos Bolsonaro.
Embora tenha havido definição sobre a não reeleição de Rodrigo Maia e de Davi Alcolumbre, isto não significa que haja certeza preliminar quanto a possíveis nomes bem cotados ou supostos vitoriosos em caso de disputa interna, principalmente na Câmara dos Deputados. Especula-se que partidos de esquerda, como PDT, PT e PSB podem vir a se compor para apresentar um deputado ao debate de pré-candidatos. Em última análise, se o caldo entornar, não se descarta a hipótese de radicalização. Já houve episódios em que disputas dentro de bancadas acabaram favorecendo um “tertius” – caso de cisão no PT, em pleno governo Lula, quando Arlindo Chinaglia foi sacrificado no voto e o vencedor acabou sendo o folclórico deputado Severino Cavalcanti, de Pernambuco, do PP. Esse episódio constituiu uma das maiores reviravoltas da história recente da direção da Câmara dos Deputados.
Malgrado a insistência em não querer passar recibo de derrota política, o deputado Rodrigo Maia foi, mesmo, o maior atingido pelo veredicto proferido virtualmente pela maioria do Supremo Tribunal Federal, contrário à reeleição dos dois dirigentes do Congresso para a legislatura subsequente. Mais do que Davi Alcolumbre, Rodrigo Maia se expôs de peito aberto em posição autonomista como presidente da Câmara, especialmente na condução da pauta de votação de matérias de interesse do Palácio do Planalto. Não chegou diretamente a prejudicar o governo Bolsonaro no essencial – premido pela opinião pública, atuou de forma decisiva para fazer avançar a reforma da Previdência e, ultimamente, vinha tentando imprimir velocidade ao debate da reforma tributária, que tem como relator justamente o deputado Aguinaldo Ribeiro, que garante estar praticamente concluindo o seu parecer em torno das modificações que precisam ser feitas.
Rodrigo Maia, por outro lado, jogou o tempo todo com uma ameaça incômoda para o presidente Bolsonaro – dando publicidade aos inúmeros pedidos de impeachment contra o capitão que deram entrada na Casa. Por estratégia, fazia chegar à opinião pública e, mais diretamente, ao próprio Bolsonaro, que não tencionava colocar fogo no parquinho e que, por isso mesmo, adotara o princípio de protelação das análises do pedido de impeachment. O que a alguns pareceu um aceno conciliatório de Rodrigo a Bolsonaro a outros pareceu indicativo de suposta “chantagem” do presidente da Câmara quanto à sobrevida de Bolsonaro no mandato que conquistou em 2018. Isso criou uma indisposição natural do Planalto contra Rodrigo e explica a operação de guerra montada nos bastidores para inviabilizar a tentativa de recondução de Maia.
Interlocutores do atual presidente da Câmara advertem que nem tudo está liquidado. O discurso de Rodrigo Maia, enquanto isso, tem focado na necessidade de seu grupo ter um candidato que mantenha a Câmara dos Deputados livre de interferências de outros Poderes. Se Arthur Lira se eleger presidente da Casa, o grupo de Maia acredita que ele se voltará aos interesses do Planalto e não permitirá tanta liberdade a uma pauta desenvolvida pelos próprios deputados federais. Embora o deputado federal paraibano Aguinaldo Ribeiro ainda seja nome mencionado no páreo, suas chances vão escasseando à medida que atores ou expoentes de maior densidade se impõem no cenário. E há mais: Bolsonaro, que já derrotou Rodrigo, quer completar o serviço derrotando o candidato que Rodrigo apoiar. Bala na agulha é o que parece não estar em falta no Palácio do Planalto.
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Por Nonato Guedes
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