No último mês de 2020 o mundo encheu-se de esperança com a aprovação para uso emergencial da vacina contra a COVID-19 em alguns países do hemisfério Norte. Em pouco mais de duas semanas, seis países (Canadá, China, Estados Unidos, Israel, Reino Unido e Rússia) vacinaram aproximadamente dois milhões de pessoas e, antes que o ano se encerre, esse número irá crescer, uma vez que os países da União Europeia começarão a vacinar seus cidadãos nos últimos dias de dezembro de 2020.
Ainda que o início da imunização seja indiscutivelmente um alento, não significa que já podemos respirar aliviados (ou sem utilizar máscaras). Muitos desafios persistem: a necessidade de imunização em massa para que se alcance proteção suficiente contra a doença, aprovação para uso emergencial ou definitivo nos demais países do mundo, produção e aquisição de insumos, combate às notícias inverídicas sobre vacinas e ampliação do conhecimento sobre novas linhagens do SARS-CoV-2.
Mesmo nos países que já se encontram vacinando seus habitantes, o cenário não é menos preocupante. Estados Unidos, Canadá e Reino Unido atualmente enfrentam picos de casos e óbitos por COVID-19, de modo que levará alguns meses para que a situação epidemiológica possa ser controlada por meio da vacinação em massa. O aparecimento de nova variante do vírus no Reino Unido levou o país a entrar em novo lockdown extremamente restritivo e fomentou a escalada da crise sanitária no continente europeu. Análises iniciais indicam que essa variante se dissemina mais rapidamente entre as pessoas, no entanto não está associada à severidade dos sintomas da COVID-19.
Até o momento, não há evidências que sugiram que esta ou outras mutações do SARS-CoV-2 estejam relacionadas a mudanças na resposta imunológica. Por consequência, espera-se que as vacinas atualmente disponíveis mantenham sua eficácia também contra a nova variante. Mesmo assim, as farmacêuticas responsáveis por sua produção já se preparam para possíveis cenários em que seja necessário adaptar os imunizantes às novas cepas virais. Afinal, 2020 nos ensinou que devemos torcer pelo melhor, mas estar preparados para tudo que possa acontecer.
Entre as nações que ainda não iniciaram a imunização de seus habitantes, o cenário permanece sendo de alerta e angustia. No Brasil, espera-se que a autorização para uso emergencial de, no mínimo, duas vacinas ocorra em janeiro. Dada a limitada disponibilidade de doses, o estoque de insumos, a complexidade logística e o contingente populacional do país, somente uma pequena fração de habitantes deve estar imunizado no primeiro trimestre de 2021. Estima-se que a vacinação em massa dure cerca de 16 meses, o que, em termos práticos, significa que ainda levaremos bastante tempo para alcançar o nível de proteção necessário para diminuir substancialmente a transmissão da COVID-19 no país.
Assim, nos primeiros meses de 2021 é esperado que o Brasil ainda enfrente um cenário epidemiológico crítico. Com isso, ao menos no primeiro trimestre do ano, é provável que não ocorram alterações nas medidas preventivas atualmente em vigor, como obrigatoriedade do uso de máscaras, redução da capacidade de atendimento em estabelecimentos comerciais e restrições parciais de mobilidade social. A constatação da presença de novas linhagens do SARS-CoV-2 pode levar regiões do país a endurecer algumas medidas, caso se prove que impõem maior risco de transmissão e agravamento.
Há, no entanto, que serem celebrados os avanços científicos ocorridos em tempo recorde em 2020, bem como a resiliência da população diante das novas condições impostas. O compromisso com a manutenção dos cuidados preventivos se faz necessário para que o controle da situação sanitária seja alcançado em 2021, junto com a vacinação em massa da população.
Por: Nila Larisse Silva de Albuquerque, Enfermeira. Doutora em Enfermagem.
Jornal do Médico