Salão do Artesanato Paraibano abre janela de oportunidades para as louceiras de Cajazeiras

A 39ª edição do Salão do Artesanato Paraibano abriu as portas para as louceiras de Cajazeiras, município do Alto Sertão, que estão expondo e comercializando peças da Coleção Bagaceira, resultado de uma consultoria ministrada pelo designer Christus Nóbrega em dezembro do ano passado, que revisitou a técnica da cerâmica bordada introduzida ainda nos anos 2000. O Salão do Artesanato está sendo realizado pelo Governo da Paraíba e Sebrae-PB, numa megaestrutura na orla marítima de João Pessoa, até o próximo dia 2, com horário de visitação das 16h às 22h, todos os dias da semana. O tema desta edição é “Qual o seu papel?”, uma homenagem aos artesãos que trabalham com as técnicas da papietagem e papel machê.

Reconhecidas como Patrimônio Imaterial da Paraíba, por meio de Lei sancionada pelo governador João Azevêdo em 2023, as louceiras de Cajazeiras são um símbolo de resistência cultural e de inovação. A técnica de cerâmica bordada foi aplicada, inicialmente, a utensílios simples, como pratos e panelas, logo evoluindo para a confecção de peças decorativas e utilitárias contemporâneas.

A primeira-dama do Estado e presidente de Honra do Programa do Artesanato Paraibano (PAP), Ana Maria Lins, enalteceu a participação das louceiras de Cajazeiras na 39ª edição do Salão do Artesanato. “Há quase dois anos, o governador João Azevêdo sancionou uma lei que reconhece a arte dessas grandes mulheres como Patrimônio Imaterial da Paraíba. E, mais uma vez, com a participação delas no Salão do Artesanato, uma grande janela de oportunidades se abre, porque elas merecem vender e divulgar os seus produtos, que representam muito bem as nossas raízes”, acrescentou.

A gestora do PAP, Marielza Rodriguez, descreveu a iniciativa em prol das louceiras de Cajazeiras assim: “É uma satisfação enorme para o Programa do Artesanato Paraibano trazer, 23 anos depois, Christus Nóbrega para, com as louceiras de Cajazeiras, ter uma coleção em busca de novos mercados, para estimular essas mulheres que resistem ao longo do tempo, fazendo um artesanato de tradição, de extrema qualidade e beleza.”

O designer Christus Nóbrega, por sua vez, contou como surgiu a inspiração para a Coleção Bagaceira. “Uma bagaceira é um termo popular aqui na região Nordeste que se refere à loja ou a espaços onde se vende de tudo: produtos variados e baratos, expostos de maneira aparentemente desorganizada. E, em Cajazeiras, as louceiras vendiam suas peças bem em frente a essas lojas. Foi desse cenário que surgiu a inspiração para esta coleção: decidimos olhar para dentro dessas lojas e encontrar os elementos estéticos e simbólicos que dariam vida às peças”, disse.

A Associação das Louceiras do Bairro São José tem na artesã Lourdes Souza uma grande liderança, que definiu a participação no Salão do Artesanato Paraibano como uma “oportunidade maravilhosa”. “Nós estávamos quase parando, porque aqui as vendas são fracas e o material para produzir as peças é muito difícil. Christus Nóbrega veio e gostamos demais, porque fazia 23 anos que a gente tinha trabalhado com ele. Agradecer primeiramente a Deus e depois a todos que fazem o Programa do Artesanato, em nome de Marielza. E estamos muito felizes pela participação no Salão, oportunidade de vender nossas peças e de receber encomendas também. Pra se ter ideia, a nossa participação no Salão do Artesanato aí em João Pessoa já rendeu um convite para a gente ir pra São Paulo”, adiantou.

Aliando tradição e inovação, as peças de cerâmica produzidas pelas louceiras de Cajazeiras têm um grande valor agregado, sendo um pouco mais caras que a média das comercializadas no 39° Salão do Artesanato; no entanto, têm tido muita procura. “Como o ticket médio do Salão é relativamente menor, chamou muito a nossa atenção algumas peças já terem sido vendidas”, comentou Marielza Rodriguez, destacando que o Salão do Artesanato é a primeira vitrine para a Coleção Bagaceira — as negociações estão bastante avançadas para a coleção ser também exposta no eixo Rio—São Paulo.

Quem são as louceiras de Cajazeiras — As louceiras de Cajazeiras são um grupo de artesãs do município de Cajazeiras, no Alto Sertão paraibano, com uma tradição de mais de 50 anos na produção de cerâmica artesanal. Elas são responsáveis pela preservação e inovação da técnica de cerâmica bordada, um processo que combina a ancestralidade do trabalho em barro com a aplicação de bordados que retratam flores do sertão e outras iconografias locais. Essa prática foi introduzida no início dos anos 2000, em uma consultoria que propôs o bordado como estratégia para diferenciar suas peças e agregar valor cultural e estético, ministrada pelo designer Christus Nóbrega.

As louceiras, além de transmitirem esse conhecimento de geração em geração, enfrentam desafios relacionados à coleta de matéria-prima, como a escassez de barro na região devido ao crescimento urbano, o que obriga as artesãs a buscar materiais em locais mais distantes. A produção é realizada de forma inteiramente manual, sem o uso de tornos, e destaca-se pela simetria e autenticidade das peças, características que refletem a habilidade e o domínio técnico das artesãs.

Serviço:   

39° Salão do Artesanato Paraibano

Tema: Qual o seu papel?

Quando: 10 de janeiro a 2 de fevereiro de 2025

Onde: Orla marítima de João Pessoa (estacionamento do Hotel Tambaú)

Visitação: 16h às 22h (todos os dias da semana)

Entrada: 1 kg de alimento não perecível