Chico de Assis é repentista, cordelista, professor e militante cultural, além de participar de projetos que fomentam a cultura nordestina na capital do país. Ele nasceu em Alexandria, um município no interior do estado do Rio Grande do Norte, e veio morar em Brasília em 1994. O artista entende que o papel da arte e se mobilizar como ação de resistência contra toda forma de preconceitos.
“O nordestino é um guerreiro, é um povo que supera todas essas barreiras de cabeça erguida sem ser levado pelos preconceitos e pelas formas pejorativas que eles são tratados. Eu acho que a gente tem que trabalhar com resistência”.
Chico escreveu seus primeiros versos aos 10 anos , aprendeu a tocar viola aos 13 e aos 18 anos já era repentista profissional. Chico é apaixonado por arte e pela literatura de cordel. Ele é formado em Artes Plásticas pela Faculdade de Artes Dulcina de Moraes.
Chico de Assis fala da viola com amor
O repente é o seu sustento e sua paixão há mais de 40 anos. Com a cantoria ele pode se formar, criar seus filhos e visitar vários países. “ Tudo que eu tenho eu agradeço a viola. O repente é a minha vida”
Chico de Assis e alguns companheiros cordelistas e repentistas realizam projetos em escolas do Distrito Federal para difundir a cultura cordelista e a arte nordestina. Eles realizam apresentações oficinas de rima, métricas e oração poética.
“A gente tem como objetivo principal afirmar a força da cultura nordestina por meio do repente na busca da consolidação desse trabalho que a gente vem fazendo há muitos anos. […] É um trabalho que vem fazendo com que essas pessoas possam se inserir dentro do processo do conhecimento da cultura popular tanto da cantoria de viola como da literatura do cordel.”
Confira abaixo trechos da entrevista desse grande nome da arte no DF
Como o senhor vê o impacto da cultura nordestina aqui em Brasília e como é esforço que você faz pra difundir?
Chico de Assis – A gente tem como objetivo principal afirmar a força da cultura nordestina pelo repente na busca da consolidação desse trabalho que a gente vem fazendo há muitos anos.
Eu sou repentista, cordelista, professor e militante cultural. A gente entende que deve ser muito forte o trabalho que tem que ser feito como resistência. Da mesma forma, honrar o legado de outros nordestinos. Precisamos atuar na formação de novas plateias para garantir que a expressão seja acentuada e disseminada em todas as cidades do Distrito Federal. Ceilândia é a cidade que tem o enfoque maior da cultura popular nordestina e da cantoria de viola em função da Casa do Cantador.
Além disso, é a segunda maior cidade nordestina fora do Nordeste. Se você chegar a Ceilândia e procurar uma pessoa de uma idade mais avançada, com certeza, vai saber o que é cantoria.
O trabalho que a gente faz nas escolas faz parte do processo do conhecimento da cultura popular tanto da cantoria de viola como da literatura do cordel.
A gente trabalha com apresentações e também com cursos, oficinas de rima e poética.
O intuito é difundir a cultura nordestina?
Com certeza, a gente fala muito da importância da cultura nordestina, mas quando a gente está falando da cultura, a gente fala dela geral. A cultura tem essa essência da bandeira nordestina, mas na verdade é brasileira. São muitos cantadores que moram em São Paulo e que não voltaram. Muitos que moram aqui
não voltaram.
O Rio de Janeiro também. Mas as duas maiores cidades fora do Nordeste com a cantoria forte são São Paulo e Brasília.
Você acha que há muito preconceito associado ao nordeste, associado a viola, as coisas típicas do nordeste?
Há preconceito com a cultura popular, inclusive com a literatura de cordel, o repente, o forró, a música. Ainda se faz associação de forma pejorativa, como se fosse uma cultura menor. O preconceito a gente enfrenta de todas as formas e está arraigado na cabeça de algumas pessoas. O nordestino é um povo que supera todas as barreiras de cabeça erguida. Eu acho que a gente tem que trabalhar é a resistência. Pessoas podem ser marginalizadas e houve quem não sabia se se defender nem valorizar o que estava fazendo.
Hoje existe um trabalho muito forte com agentes culturais que irradiam uma política de militância cultural e de conscientização. Vejo que hoje o nordestino tem conseguido se defender. Eu rebato toda a agressão
Há uma associação do preconceito contra Nordeste ao preconceito também racial?
Sim. Há um preconceito dobrado. Já vem mais arraigado, enraizado com doença que é o preconceito. Eu acho que isso é uma coisa muito cruel. Muito torturante.
Nesse contexto, qual a importância do repente para você e para a cultura nordestina?
Quando a gente fala da importância do repente, eu entendo que é uma expressão artística e cultural secular que, a cada dia que passa, ela se enraiza com mais intensidade. As pessoas estão vendo nas universidades, com mais dissertações, teses e trabalhos de graduação.
Há muitas pessoas estudando sobre a literatura do cordel e sobre a cantoria de viola.
Para mim, o repente é minha vida. Eu saí da roça e comecei trabalhar com 7 anos de idade na roça. Eu saí aos 16 anos da roça para cantar.
Como é que o senhor vê os ataques aos nordestinos?
O preconceito está associado a todo tipo de tentativa de dominação. São de pessoas que acham que o Nordeste deve ser tratado como a senzala e o Sul e o Sudeste, como se fosse o lugar da Casa Grande.
Por Luana Nogueira
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira
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