Quando, há cinco meses, a senhora foi até o Posto de Saúde José Walter pedir um atestado de comprovação de que está viva, para o INSS, o médico Luiz de Araújo Barbosa se deu conta de como a vida é surpreendente. “Ela vai completar 112 anos”, diz, mais admirado porque a paciente – cuja família não permitiu identificação ou entrevista – caminha (com apoio), não tem hipertensão, diabetes, nem toma medicamentos. E fuma cachimbo “por divertimento”, falou ao médico, que guarda uma memória da supercentenária no celular.
A medicina explica a longevidade. “A genética (em determinadas combinações de genes) é responsável por 30% da longa vida. E 70% é a maneira que a pessoa vive. As pessoas que se estressam muito, ao longo da vida, normalmente, não duram muito tempo”, sintetiza Luiz Barbosa. A ciência também avançou no tratamento de doenças crônicas, considera o geriatra Hastencoubath Guimarães da Frota, e há maior atenção à qualidade de vida e investimento em saúde coletiva.
Aos 38 anos, o geriatra já se preocupa em “envelhecer bem, porque vemos muitas limitações”. Cuida da alimentação e da atividade física, ainda que saiba não existir “receita de bolo ou medicamento mágico”. “(a velhice) É uma idade esperada, em que você vai fazer outras atividades”, dialoga a geriatra Carla Bezerra Lopes Almeida, 31, que também busca “ter uma velhice saudável”. E une, aos cuidados com o corpo e ao acompanhamento médico regular para prevenir doenças, a manutenção de uma mente saudável, boas relações sociais, um hobby, uma religiosidade.
A vida se fabrica por si própria, entre envelhecer e resistir. Chegar aos cem anos ou ir além não é só caminhar com a história, atravessar o mundo lá fora. É, principalmente, vencer os altos e baixos do tempo, empreender uma travessia pelo mundo dentro de si.
“As coisas vão se acumulando. O processo (de envelhecimento) é contínuo e há uma hora em que essas alterações tomam um peso maior, tem uma significância maior na vida”, explica Carla Almeida.
Ainda que as estatísticas considerem 60 anos como o início do envelhecimento humano, para a geriatra, “não existe uma idade, mas um acúmulo desse processo ao longo do tempo, que pode ser controlado”. “Para cada faixa etária, existem características. A partir dos 20 anos, o ser humano atinge seu auge. À medida que vamos vivendo, vamos perdendo nossa capacidade vital, de maneira lenta e progressiva”, completa Luiz Barbosa.
Quando, há cinco meses, a senhora foi até o Posto de Saúde José Walter pedir um atestado de comprovação de que está viva, para o INSS, o médico Luiz de Araújo Barbosa se deu conta de como a vida é surpreendente. “Ela vai completar 112 anos”, diz, mais admirado porque a paciente – cuja família não permitiu identificação ou entrevista – caminha (com apoio), não tem hipertensão, diabetes, nem toma medicamentos. E fuma cachimbo “por divertimento”, falou ao médico, que guarda uma memória da supercentenária no celular.
A medicina explica a longevidade. “A genética (em determinadas combinações de genes) é responsável por 30% da longa vida. E 70% é a maneira que a pessoa vive. As pessoas que se estressam muito, ao longo da vida, normalmente, não duram muito tempo”, sintetiza Luiz Barbosa. A ciência também avançou no tratamento de doenças crônicas, considera o geriatra Hastencoubath Guimarães da Frota, e há maior atenção à qualidade de vida e investimento em saúde coletiva.
Aos 38 anos, o geriatra já se preocupa em “envelhecer bem, porque vemos muitas limitações”. Cuida da alimentação e da atividade física, ainda que saiba não existir “receita de bolo ou medicamento mágico”. “(a velhice) É uma idade esperada, em que você vai fazer outras atividades”, dialoga a geriatra Carla Bezerra Lopes Almeida, 31, que também busca “ter uma velhice saudável”. E une, aos cuidados com o corpo e ao acompanhamento médico regular para prevenir doenças, a manutenção de uma mente saudável, boas relações sociais, um hobby, uma religiosidade.
A vida se fabrica por si própria, entre envelhecer e resistir. Chegar aos cem anos ou ir além não é só caminhar com a história, atravessar o mundo lá fora. É, principalmente, vencer os altos e baixos do tempo, empreender uma travessia pelo mundo dentro de si.
“As coisas vão se acumulando. O processo (de envelhecimento) é contínuo e há uma hora em que essas alterações tomam um peso maior, tem uma significância maior na vida”, explica Carla Almeida.
Ainda que as estatísticas considerem 60 anos como o início do envelhecimento humano, para a geriatra, “não existe uma idade, mas um acúmulo desse processo ao longo do tempo, que pode ser controlado”. “Para cada faixa etária, existem características. A partir dos 20 anos, o ser humano atinge seu auge. À medida que vamos vivendo, vamos perdendo nossa capacidade vital, de maneira lenta e progressiva”, completa Luiz Barbosa.
Envelhecer é atingir uma insustentável leveza de nós mesmos. Há perdas e ganhos – a mensuração é individual, muito particular. De modo geral, audição, visão, força, memória, cognição se desgastam; o organismo já não se defende bem, a pele desidrata com facilidade, o pensamento freia. A senhora de quase 112 anos que caminha por este texto fez cirurgia de catarata duas vezes, enxerga apenas vultos, teve dois AVCs (sem sequelas) e uma fratura de fêmur que a faz sentir dores há 12 anos, informa o médico Luiz Barbosa.
Por fim, resta-nos alguma lucidez – que é, para a medicina, a capacidade de conversar, ter certa autonomia e orientação no tempo e no espaço. Resta-nos o que somos, o que a vida é. “Cada fase da vida tem sua importância naquele momento. Se você vai tendo alguma deficiência na velhice, por outro lado, vai chegando à sabedoria. E a sabedoria é o encontro de toda a existência, é onde você é capaz de ver o sentido real da vida… É na velhice onde a pessoa tem a possibilidade de ser feliz em toda a sua existência”, conclui o médico.
Francisco Ribeiro
Francisco Ribeiro Duarte inteirou 100 anos no último dia 10 de maio. Foi um domingo de festa no quintal de casa, os vizinhos todos convidados para o banquete de galinha à cabidela e feijão verde. “Só não teve o caranguejo, que ele gosta tanto, porque não deu tempo de comprar”, lamenta Conceição de Maria Duarte, 44, a filha que lhe faz companhia e agrado. “O segredo (de viver tanto e bem) é o bom trato. Fui criado com leite mugido: quatro horas da manhã, eu já tava lá (no curral) com uma cuia”, explica-se. “Ele só toma remédio pra pressão, cálcio e óleo de peixe”, orgulha-se a filha.
Seu Francisco chegou bem ao centenário, considera. Passou por cirurgias na próstata e de hérnia, pela UTI e, hoje, caminha pelo quintal, exercita braços e pernas, faz a própria barba, o café coado, assiste futebol na televisão, não perde um filme de cowboy, converteu-se à religião evangélica (depois dos 90 anos) e dá palpites sobre as pequenas obras domésticas. Não para, nem aquieta o pensamento.
Conta de um banho de rio “na cheia de 1924”, de uma amizade com
Getúlio Vargas, da Guerra de 39, do Carnaval “na Praça do Ferreira, no tempo do lança perfume”.
Não se lembra de ter “tido problema difícil” na vida, nunca brigou com: “Se o sujeito vem com vontade de brigar, ele vai simbora e não briga!”.
Também nunca se preocupou em ficar velho e nem tem medo da morte. “A pessoa, quando é novo e se preocupa com a morte, é porque alguma coisa tá devendo…. A morte é uma coisa que Deus manda, é uma mudança desse pra outro mundo. Porque a terra é emprestada à gente.”
A memória mistura histórias do mundo e invenções de si mesmo para inaugurar sabedorias. “Amor, ih, tive muito! Mas acabou-se”, contabiliza. Ao longo do viver, pediu outros para Deus, guardou as saudades, ensina. (AMCC)
Fonte O Povo Online