Cultura

Sertaneja que teve sonho de ser bailarina é concretizado pela filha

Quando deixou Itaporanga há mais de duas décadas e meia, então com apenas 15 anos e enlutada pela morte do pai, o ourives ambulante Enoque Pedrosa, a jovem Cláudia Ramalho carregava, dentro de si, um sonho adormecido: o despertar não demorou e a vocação pela dança clássica foi materializada entre Pedrolina, onde passou a residir e teve sua primeira oportunidade, e Salvador, onde adquiriu uma formação acadêmica em dança e tornou-se professora de balé. Sonhou mais longe, além dos seus próprios passos, e transferiu para a filha a missão de levar o sonho bem mais adiante.

- PUBLICIDADE -

Esta semana, quando retornou a Itaporanga, tanto tempo depois, Cláudia trouxe consigo muitas históricas de superação e luta pela dança, mas sua principal vitória, até hoje, atende pelo nome de Gabriela Ramalho, uma bailarina de 15 anos, sua filha. Com a mesma idade que a mãe deixou a terra para encontrar a dança lá fora, a adolescente chegou à cidade, lugar onde brotaram suas raízes familiares, e mostrou o quanto a força de um sonho pode vencer a distância, o tempo e abrir portas.

Gabriela é hoje aluna do Bolshoi, a mais famosa companhia de balé do mundo, cuja única escola de formação de bailarina funciona em Joinville, Santa Catarina, onde está há seis anos, mas chega lá não foi fácil: precisou vencer seletivas regional e nacional. De 580 meninas de todo o país, apenas três foram escolhidas para a escola.

Ela foi uma das selecionadas e isso, certamente, graças a sua base: herdou não apenas o sonho materno, mas as lições também. Gabriela começou a dançar nos primeiros anos de vida na escola montada pela mãe em Petrolina e, logo cedo, descobriu que o balé era o seu caminho. A chegada ao Bolshoi foi uma grande vitória, mas não foi fácil se adaptar a uma nova cidade e a novos costumes, tão distantes da realidade sertaneja: “cheguei lá com apenas 9 anos e chorava muito com saudade, querendo voltar para casa, não gostava da comida, sentia muitas dores por causa do longo treinamento, mas não desisti do meu sonho”, contou Gabriela.

Acompanhar a filha única foi necessário para que a menina não desistisse e, por isso, Cláudia e o esposo tomaram uma decisão difícil, mas fundamental naquele momento: deixaram a vida e os negócios em Petrolina e rumaram para Joinville, onde continuam residindo. “Um dia surgiu uma oportunidade deu ir para os Estados Unidos, e minha mãe não deixou, então pensei: eu não posso negar à minha filha a chance que eu não tive, até porque quando vejo Gabriela dançar, eu me realizo”, disse emocionada Cláudia, que é formada na tradição Ryael, uma escola de origem inglesa; já sua filha enveredou pela formação russa e, em dois anos, estará formada no Bolshoi: o grande objetivo da jovem é, futuramente, integrar-se a uma companhia internacional e correr o mundo com sua arte, que envolve corpo e espírito, harmonia e movimento.

Grata surpresa em sua terra – A família passou apenas três dias em Itaporanga: Cláudia veio visitar um tio e resolver assuntos pessoais. Na terra, reviu a rua onde morou e o Ginásio Diocesano, onde concluiu os estudos fundamentais, mas sua emoção foi maior quando soube que a cidade tinha uma escola de balé, e correu para lá. Não esperava encontrar, por aqui, a dança que move sua vida e a de sua filha.

No final da manhã da última sexta-feira, 5, poucas horas antes de viajar, mãe e filha visitaram o Studio de Ballet Polyana Alves, que fica no centro de Itaporanga, e tiveram oportunidade de deixar um pouca de suas histórias de vida, incentivos e algumas lições também para as alunas: “Tenho certeza que deixamos aqui hoje uma sementinha”, comentou Cláudia. A família Ramalho, a qual pertence, é a mesma da cantora Elba: elas são primas e o sangue da arte, embora tenham caminhado por expressões artísticas distintas, corre em suas veias e se sucedem nas gerações familiares. Fotos: Cláudia e Gabriela durante vistia à escola de balé de Itaporanga.

Fonte: folhadovali.com.br

Deixe uma resposta