“Infeliz da geração cujos juízes merecem ser julgados.”
Alguns juízes são absolutamente incorruptíveis. Ninguém consegue induzi-los a fazer justiça. (Bertolt Brecht)
O título da coluna foi extraído de textos judaicos. E é oportuno, convenhamos. Em uma república que completará 130 anos no ano que vem, ainda vivemos uma imaturidade democrática de ruborizar indígenas e uma ignorância social de envergonhar qualquer quilombo. “A democracia no Brasil é um grande mal-entendido”, assertou Sergio Buarque de Holanda, e eu raciocino em sua afirmativa. Não precisamos revisitar os livros de história para nos fartarmos das evidências de nossa infância democrática e alienação voluntária.
Que país é esse onde impõe-se uma austeridade severa à massa trabalhadora e prodigaliza-se fortunas com privilégios facultados a 1% da população? Que lugar é esse onde as políticas públicas e os programas sociais são vilões da economia e alvo do deboche midiático? Que nação é essa onde o auxílio livro de um juiz pode chegar a R$ 5 mil reais (maior que o salário de uma professora do Estado, com mestrado)? Que cidadania é essa que cala com o perdão de dívida de R$ 25 bilhões do maior banco privado do país, o ITAÚ?
Que povo é esse que silencia ante o corte de mais de um milhão de benefícios do Bolsa Família? A propósito, diga-se de passagem, este programa social havia tirado o Brasil do mapa da fome e alçado 50 milhões de brasileiros para fora do cerco da pobreza extrema, isto ao custo de meros 0,4% do PIB. O escárnio contra essas políticas públicas desnuda a sociedade hipócrita em que habitamos.
Uma república que se diz democrática, mas que fecha os olhos às grandes desigualdades estruturais que fermentam na nossa miséria. Uma sociedade que emudece quando o ministro e atual presidente do TSE, Luiz Fux autoriza a bagatela de R$ 4.300,00, como auxílio-moradia, para 17.000 juízes federais gerando um custo de R$ 884 milhões/ano aos cofres públicos (em outra conta esse valor equivaleria a 490 triplex/ano, mas isso não vem ao caso). Vamos gorfar!
Essa república acelera na contramão do rumo que toma o mundo. Enquanto todos os demais países trabalham para garantir a segurança e estabilidade pátrias, priorizando a posse e o controle de setores estratégicos, do lado de cá o “estado mínimo” é a cartilha das elites. Com argumentos elaborados pelo mercado financeiro e seus abutres rentistas, promovem a demolição do Estado Democrático de Direito e fomentam um estado exclusivamente a seu serviço. E toda essa estultice amparada no apoio dos grandes Alexandres “Moralóides” e noutras togas alugadas.
Enquanto as políticas do combate à fome, a miséria, a pobreza e o analfabetismo incomodar mais que as orgias financeiras do judiciário; enquanto o empoderamento das mulheres e das classes mais pobres for mais desconfortável que o lodo que permeia o congresso nacional; enquanto a meritocracia da miséria for o discurso para justificar o abandono dos pobres e desamparados pelo estado; enquanto fundamentarmos que a caos social é fruto da preguiça e da ociosidade dos que não tem oportunidade, esta nação estará fadada à masmorra da corrupção!
Que valores estamos construindo para esta república quando negligenciamos o desprezo a Carta Magna? Quando banalizamos a violência, a mentira, a misoginia, o racismo, a homofobia, os rancores e ressentimentos preconceituosos nas redes sociais e WhatsApps com tanta naturalidade, que cidadania estamos promovendo?
Para os que chegaram ao fim do texto, pergunto: minha gente, “que tiro foi esse” que nos tomou de assalto a sobriedade social? Que sepultou a artigo 5, inciso LVII da Constituição, para as gerações futuras? Deus nos salve da casta guardiã da sétima Carta Constitucional!
FRANCISCO JARISMAR DE OLIVEIRA (Mazinho)
Licenciado em História pela UFPB
Servidor Público Federal do IFPB