A (GLO) Garantia da Lei e da Ordem
“O pior governo é o que exerce a tirania em nome das leis e da justiça.” (Montesquieu)
Antes de qualquer coisa devemos entender que Intervenção federal não é o mesmo que intervenção militar, mas está lá no Art. 20 do ansioso Decreto: “o cargo de interventor é de natureza militar”. O protagonismo dos generais abre um caminho que pode levar a uma intervenção militar, mas ainda não o é. Essa compreensão talvez nos alivie uma tensão inicial, mas não deve nos aquietar as ideias e projeções para um futuro próximo. O Brasil está, sim, sofrendo a consolidação do Golpe de 2016 e isso está se confirmando passo a passo, já dissemos.
Assistimos estupefatos, não ao decreto presidencial (Temer não nos surpreende quando a pauta é chicotear o povo), mas a suspeição que paira sobre a tranquila aceitação do governador Pezão (PMDB) e das casas legislativas, tudo isso após uma massiva e sistemática cobertura da rede Globo e seus veículos midiáticos, quase que implorando ao governo vampiresco uma intervenção federal na unidade federativa do Rio de Janeiro. Isso está me cheirando cada vez pior!
A colaboração da Globo já faz parte desse filme, desde a primeira versão em 1964. Ora, as eleições estão se aproximando e muitos vampiros querem renovar seus mandatos, porém a reforma da previdência é um muro entre eles e os eleitores. Tem ainda a figura lendária do PT que não desiste de lutar, não demonstra medo nenhum das urnas, não se deixa matar e nem se mata (lembrei-me de Getúlio Vargas)! Sendo assim, não resta outra saída aos golpistas: – Vamos sustar a votação da reforma da previdência e tocar o terror! Mas um terror sob o nosso comando.
Começando pelo Rio, sai o secretário de segurança do Estado e assume o general Walter Sousa Braga Netto. É certo que a vitrine fluminense tem cobertura 4K da vênus platinada, o que certamente vai ajudar a convencer os demais entes federativos de que uma intervenção federal é o melhor para todos. Afinal, a insegurança pública não é exclusividade de cariocas…o Rio é só um laboratório. Os barrigas-verdes, mineiros, cearenses, potiguares… podem esperar mais um pouco.
Convém lembramos que em uma intervenção federal a ordem geral e irrestrita é garantida pelo general no comando. Isso abre frestas para que qualquer cidadão que venha a desagradar, interferir, perturbar, incomodar, descontentar ou levantar qualquer suspeita de desobediência contra a ordem imposta poderá ser preso por motivos a critério do mandante. Isso é muito delicado! Ainda mais quando as lentes da Globo apontam para os morros como o foco da desordem social que aterroriza as elites.
O que vem depois disso? Bom, (quiçá!) eleições com candidatos, defensores da porrada e da truculência social, como alvo dos holofotes dos doentes sociais e das vítimas da “crise da instantaneidade”: aqueles que sonham e querem resolver tudo no automático de suas pistolas. Em não havendo eleições, estará sagrado o Golpe de 16. Selado com o silêncio das urnas e com a ordem de Donald Trump para que se propague o exemplo para todo o cone sul, iniciando pela invasão da Venezuela (outro sonho das elites golpistas). E assim, faremos novamente o trabalho sujo com apoio dos americanos, como já o fizemos no passado contra o Paraguai e à serviço da Inglaterra.
A intervenção federal é constitucional, está previsto no art. 84, caput, inciso X, da Constituição de 1988, mas não enxergamos solução nesse Decreto inédito. Nem remédio é! Não passa de um esparadrapo na boca dos abandonados para que morram calados. O estado de violência que vivenciamos é o efeito e não a causa da putrefação social. A ausência de políticas de inclusão, emprego, saúde, saneamento, educação, cultura, segurança, entre outros tantos deveres do estado, é que são as verdadeiras razões do caos social. Não é pancadaria nem troca de tiros que vai resolver.
A chibata da violência só bate no lombo do mais fraco, a história tem nos mostrado. As elites se sentem encurraladas e apavoradas em consequência do histórico desprezo de promoveram ao longo de mais de meio século. A fatura social chegou. O establishment não quer pagar e as Rocinhas ameaçam descer para cobrar!
FRANCISCO JARISMAR DE OLIVEIRA (Mazinho)
Licenciado em História pela UFPB
Servidor Público Federal do IFPB