É muito comum, nos dias de hoje, um casal ao chegar a um bar ou restaurante pedir uma cerveja e o garçom perguntar a mulher: “e a senhora, o que vai beber?”. Essa visão machista atribuída a cerveja se distancia muito da sua origem e história. Na verdade, cerveja é coisa de mulher.
Na Babilônia e Suméria, por volta de 4.000 a.C., as mulheres cervejeiras eram conhecidas como Sabtiem, consideradas pessoas especiais, quase deusas. Os sumérios da Mesopotamia adoravam Ninkasi, a deusa da Cerveja. Deusa, não apenas uma santa. Existe um hino de louvor a ela registrado em uma tábua de argila do século XVIII a.C. Para mim, mais do que merecido, é óbvio. Se a cerveja com toda certeza é uma obra divina.
Na idade média, em vários países da Europa, a produção e comercialização de cerveja era atividade exclusivamente feminina. Entre os vikings havia uma lei que somente mulheres podiam produzir cervejas. Era natural, pois era uma atividade caseira como a de cozinhar (calma mulheres, guardem as facas). Como os ingredientes para a produção de pão e cerveja eram praticamente os mesmos, facilitava a logística do trabalho.
A comercialização das cervejas pelas mulheres se tornou consequência, levando algumas a abrirem e administrarem tavernas nas quais o líquido precioso e adorado era consumido em larga escala. Haviam leis que garantiam a propriedade particular da dona da casa dos instrumentos e vasilhames utilizados na produção. Este tipo de atuação garantiu a muitas mulheres taverneiras independência financeira.
Dá pra imaginar o que aconteceu, né? Homens com inveja e se sentindo ameaçados pelo sucesso feminino. Algo impensável para a época. Em 1284, esse domínio feminino começa a ser ameaçado com um decreto da Associação de Cervejeiros de Berwick: “Não é permitido a nenhuma cervejeira vender uma garrafa de cerveja entre a Páscoa e dia de São Miguel por mais de dois pennies, e de São Miguel a Páscoa por mais de um penny”. Covardes!!!
Atualmente, não é mais tão raro uma mulher chegar a um estabelecimento, pedir indicação de uma cerveja e completar: “mas, não me venha com cerveja de mulherzinha”.
Para homenagear às mulheres em seu dia, estou tomando uma Tupiniquim Orvalho, do estilo American Pale Ale, de coloração amarelo palha, opaca, com boa formação de espuma, mas de média permanência. A manga verde se apresenta no aroma e se confirma a cada gole. Na boca um dulçor fugaz seguido de um marcante amargor, perfeitamente equilibrado com dulçor que permanece, convidando ao próximo gole. Uma cerveja que retrata a alma feminina: perfumada, marcante, equilibrada e persistente.
Paraíba online