A percepção alienada

“Um povo ignorante é um instrumento cego da sua própria destruição.”
Simon Bolívar
Francisco Jarismar de Oliveira (Mazinho)|Colunista

Uma condição primordial para a nossa compreensão de mundo e existência está no conhecimento da nossa realidade. Na capacidade que temos de interagir no nosso meio como resposta aos estímulos que recebemos do contexto que nos cerca. A nossa leitura da vida começa na percepção do espaço no qual estamos inseridos.

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A grande massa populacional brasileira é alijada das informações que compõem a sua realidade. Os fatos e relatos trabalhados pelas mídias nem sempre esclarecem, tampouco informam os cidadãos sobre o que realmente acontece em seu entorno. As interpretações pululam, quase sempre, no terreno das futilidades, da atemorização e do entretenimento.

O instituto francês Ipsos, terceira maior empresa de pesquisa e de inteligência de mercado do mundo, através de sua sucursal em Londres (Ipsos MORI), apontou em 2015 que o brasil era o terceiro pais mais ignorante do mundo quando o tema é a sua realidade. Já em dezembro de 2017 este mesmo instituto divulgou resultado de mesma pesquisa “Perils of Perception”, realizada em 38 países, onde o Brasil figura em segundo lugar. Avançamos para trás!

Esta pesquisa revela o nível de desconhecimento do brasileiro da sua realidade, revela a crescente alienação de um povo do contexto real da sociedade em que habita. E isso é um indicador apavorante, quando vivemos um momento de perplexidade política, econômica e moral diante de um estado e suas instituições em colapso.

Se trouxermos a pesquisa “Os perigos da percepção” para os nossos municípios a constatação é mais aterrorizante. Raros munícipes sabem de dados básicos e fundamentais para a qualidade de vida em nossas cidades. Poucos piranhenses saberiam informar o percentual de domicílio com água encanada, energia ou coleta de lixo e, pasmem, ainda existem cidadãos em nosso município sem usufruto desses serviços.

Segundo o IBGE, 58% dos domicílios em nossa cidade vivem em situação de pobreza, com renda de ½ salário mínimo por pessoa. O quadro de extrema pobreza (renda de ¼ de salário mínimo por pessoa) representa 29,9% da população – a média nacional é 22,49%. Esses números revelam que em pleno século XXI ainda há miséria e apoderamento ilícito da dignidade humana em nossa sociedade.

As necessidades da nossa realidade são latentes, alarmantes e clamam a quem se apresente para ajudar na busca de soluções. Contudo, estamos alienados desse contexto real. Somos induzidos ao ódio político-partidário, ao moralismo exacerbado, a intolerância em todas as suas faces. Vivemos um momento em que brasileiros são orientados uns contra os outros, enquanto o governo presenteia o nosso solo e todas as suas riquezas para empresas estrangeiras.

Somos desconhecedores de quem somos e em que contexto realmente vivemos. A maioria da nossa população é ignorante do Artigo 60 da Constituição Brasileira de 1988, sequer sabem acionar os direitos que têm. Governos devassos e mídias alienantes nos ocupam a mente com frivolidades, novelas, futebol, falso moralismo, ódio e terror enquanto a realidade nos escapa à percepção. Tudo isso só depõe contra quem, de fato, não sabe quem é e nem onde está vivendo. Infelizmente, ainda prestamos uma servidão voluntária a ignorância num desesperador reality show.

FRANCISCO JARISMAR DE OLIVEIRA (Mazinho)
Licenciado em História pela UFPB
Servidor Público Federal do IFPB