E então, que quereis?
“O Brasil é um asilo de lunáticos onde os pacientes assumiram o controle.” (Paulo Francis)
Por mais que quiséssemos ser otimistas, o cenário é desolador. Atascados no lamaçal político ordinário, nos vemos perplexos ante as alternativas postas. O que se esperava não aconteceu. Os candidatos são ordinariamente os mesmos. Os partidos em disputa pelo poder ordinariamente se mantêm. A lógica ordinária das sucessões familiares no poder se garante. A ordinária metodologia da captação de votos se repete e a fórmula ordinária dos discursos ecoa, como sempre. E então, que quereis? Maiakóvski e eu nos inquietamos.
A reinvenção do Brasil das últimas duas décadas permanece em xeque. As fórmulas criadas, reaproveitadas e remendadas não foram suficientes para derrubar um sistema político viciado, incompetente e apodrecido. Insistimos no personalismo, no compadrio, no apadrinhamento como procedimento justo e necessário ao bem estar social. Ledo engano. Na ausência de uma reforma política real, contundente e verdadeira não avançamos, um passo sequer, rumo ao mínino de sustentabilidade social neste país.
A efervescência social, tão bem manipulada pela mídia, não deu resultados. Os homens de bem ainda não despertaram para ocuparem os seus espaços de direito na vida política do país. Manifestações de toda natureza – nem mesmo as panelas foram poupadas – sacudiram o Brasil pela TV e outras mídias. A turma mais independente esforçou-se, o quanto pode, para imprimir um cunho reformulador de idéias e concepções na cabeça dos brasileiros. Infelizmente, parece-me que tudo deu em nada.
O nosso histórico de renovação do congresso e das casas legislativas historicamente nunca ultrapassou 50 %. Convenhamos, a maioria dos que lá residem sempre cooptará parte dos novos inquilinos mantendo, assim, a supremacia dos conchavos. Nas eleições deste ano teremos o maior número de candidatos a reeleição, desde 1985! Pelo menos 457 deputados e senadores insistem em não largar o osso. Um percentual 15% maior que na eleição de 2014 (Oi?!). O que isso nos diz?
A nossa conformação com a legislação política vigente é a nossa maior culpa (depois do voto, é claro!). A impressão que fica é que gostamos desse sistema. Nada fazemos para mudá-lo de forma consciente e concreta. Alguns acreditamos que na bala é possível e mais fácil. A truculência e a covardia são mais tentadoras e estimulantes. Pena que não estejamos insertos em um jogo virtual onde a violência seja condecorada em seu volume (invoco o 5 mandamento – Não matarás! Fecho com o Pai Nosso: “Livrai-nos do mal. Amém!).
“O mar da história é agitado”, e a nossa consciência o inveja! Sofremos de um retardo político amparado no mito, no santo salvador da pátria, no herói da última hora. Herança do colonialismo, do império, de uma república ricamente grafada de personagens do mau-caratismo e descompromissados com a nação. As nossas revoluções quase nada legaram de formação política para o futuro. Foram sempre relatadas pelos inimigos da nação. Em sua maioria tem endereço fixo em fotos nos livros de história e nas idílicas redações escolares, e só. Patos, gansos , coxinhas, mitos se refestelam no marasmo político secularizado no Brasil.
O problema é sério e a solução está se distanciando, cada vez mais. Se em um momento como este não temos a noção exata da nossa responsabilidade na mudança necessária do sistema político brasileiro, quando a teremos, então? Se vamos votar nos mesmos moldes, no mesmo sistema, nos mesmos candidatos isso é prenúncio de que tudo o que aconteceu, acontece e o que vamos fazer acontecer nessa eleição, em nada vai mudar o pais.
Encerro com o poeta revolucionário russo Vladimir Maiakóvski (1893-1930), o mesmo que intitula este texto, quando diz: “E logo de cada fronteira distante subiu um cheiro de pólvora perseguindo-me até em casa. Nestes últimos vinte anos nada de novo há no rugir das tempestades.”
FRANCISCO JARISMAR DE OLIVEIRA (Mazinho)
Licenciado em História pela UFPB
Servidor Público Federal do IFPB