Excelentíssimo eleitor!
Por: Francisco Jarismar
A República sobreviverá até o Congresso descobrir que pode subornar o povo com seu próprio dinheiro. Alexis de Tocqueville
Nascemos em um país onde a dívida pública, que é o resultado soma da dívida interna com a dívida externa do País, correspondente a mais de 57% do Produto Interno Bruto (PIB). Onde a taxa de juros SELIC (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia) está em 10,75% ao ano, alimentando a fome insaciável dos rentistas e massacrando a população com uma alíquota de impostos sobre o consumo em torno de 28% (a maior do mundo!). Vivemos em uma democracia onde o voto é obrigatório e o clima eleitoral é uma constante, com eleições a cada dois anos. Em meio a isso tudo vive o Excelentíssimo Eleitor.
Após a leitura do primeiro parágrafo, talvez aceitemos que não há possibilidade para um instante sequer de contemplação da própria existência e do compromisso de vida em sociedade. O bombardeio dos mecanismos de exploração do Excelentíssimo Eleitor o atordoa e o faz pensar que não há jeito, que sobreviver a tudo isso é o que lhe resta e que as disputas eleitorais ininterruptas não lhe deixam tempo para refletir, sequer, sobre si e sobre o seus. A obrigação constitucional em ter que optar, a cada dois anos, por um ou outro candidato leva o Excelentíssimo Eleitor, em muitos casos, a não postar na balança das suas decisões as questões de longo prazo e que dizem respeito às gerações futuras.
Uma eleição é feita para corrigir o erro da eleição anterior, mesmo que o agrave, já disse Carlos Drummond de Andrade. Estadistas e demagogos ocupam os espaços nas disputas eleitorais, um pensando nas próximas gerações e o outro nas próximas eleições. Separar o joio do trigo requer tempo e reflexões que são negados ao Excelentíssimo Eleitor. A impressão vivida é a deque uma eleição está emendada na outra. Que tudo é uma corrida sem intervalo e sem fim.
De uma coisa já sabem os mais atentos: nunca se mente tanto como antes das eleições, durante uma guerra e depois de uma caçada. Porém, essa sabedoria popular não resolve os problemas do Excelentíssimo Eleitor. Ele precisa de políticas e ações públicas na saúde, segurança e educação. E estas providências ficam ao encargo dos nossos representantes, eleitos pelo Excelentíssimo Eleitor.
É urgente saber que somos nós quem os elegemos; bancamos suas emendas parlamentares; custeamos o fundo partidário e eleitoral (dinheiro público distribuído aos partidos políticos de acordo com o tamanho de suas bancadas no Congresso). Para se ter uma ideia, apenas dois partidos (PT e PL) gastaram aproximadamente R$ 1.600.000.000,00 (um bilhão e seiscentos milhões de reais) nas campanhas municipais deste ano. E nós ainda lhes pagamos os honorários, penduricalhos e outras indenizações.
Meu caro e Excelentíssimo Eleitor, as eleições e os candidatos podem nos ludibriar o voto e nos ilusionar das nossas verdadeiras necessidades, mas não nos pode surrupiar a dignidade do voto consciente. Se os porcos pudessem votar, o homem com o balde de lavagem seria sempre eleito, não importa quantos porcos ele já tenha supliciado nas pocilgas ao derredor. Porém, contudo e entretanto somos da espécie homo sapiens, temos consciência, raciocínio e isso nos diferencia dos suínos e nos tornao Excelentíssimo Eleitor, a autoridade máxima dos pleitos eleitorais.
Por fim, se o seu candidato perdeu, não importa. O que realmente fará a diferença é sabermos que seremos todos governados pelo vitorioso. Para ele garantiremos um abastado salário e as regalias do exercício do poder. Em troca ele nos deve atender aos anseios e necessidades coletivas, sem distinção partidária. Já ao Excelentíssimo Eleitor compete estar presente e cobrar, de preferência, com excelência. Afinal, os ausentes nunca têm razão.
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Francisco Jarismar de Oliveira (Mazinho) — Mestre em Ensino pela UERN. Licenciado em História pela UFCG; Especialista em Informática em Educação pela UFLA e Servidor Público Federal do IFPB.