Eu fico! Vocês passam

“Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico” (D. Pedro I)

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Francisco Jarismar de Oliveira | Colunista

Em 9 de janeiro de 1822, o entãopríncipe regente do Brasil, Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon historicamente grafado como D. Pedro I, não acatou ordens das Cortes Portuguesas para que deixasse imediatamente o Brasil, retornando para Portugal.

Já em 24 de maio de 2018, 196 anos depois (fiz as contas!) o regente da República Federativa do Brasil, Michel Miguel Elias Temer Lulianão acatou o recado dos caminhoneiros e parafraseou o imperador dizendo: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico”. E ficou.

Mais uma vez a nação brasileira regurgita seu próprio veneno. Seus mais profundos pecados são escancarados de forma visceral. Suas mais recônditas covardias são expostas num espetáculo grotesco, repugnante, torpe. Escorreu nas mangueiras das bombas dos postos de combustíveis, o sangue da solidariedade, do compromisso coletivo, do sentido de que “povo unido jamais será vencido”.

Esvaiu-se como a sangria de um porco e sua grunhidela horripilante qualquer resquício de enfrentamento que se pudesse, ainda, esperar. O brasileiro não se mostrou “com muito orgulho, com muito amor”, pelo contrário, denunciou-se pela ausência de arrojo, de bravura, de valentia.

Em poucos dias os caminhoneiros encurralaram o governo, colocaram-no nas cordas, emparedaram o temeroso e o puseram genuflexo. Já o povo, apavorado, não partiu em defesa dos companheiros da estrada mas, sim, em disparada para os postos de gasolina, para os supermercados, para o abarrotamento de suas despensas, como que a preparar-se para assistir (novamente) pela Globo o desenrolar dos fatos.

Carro com tanque cheio, deitado no sofá e tomando sua cerveja esperaria o show da vida brasileira acontecer (mais uma vez) sem a sua participação. Os heróis? Não importa, desde eu não seja eu, pode ser qualquer um. Ser herói, cansa e exige muita coragem, resistência e persistência. Eu? Eu só tenho inteligência. Assisto a tudo e manifesto a minha opinião em tempo real, nas redes sociais.

Sinceramente. O que vivenciamos e que conclusões podemos tirar dos últimos dias nos deixam de pelo em pé. Nem batedores de panelas, nem os coxinhas e suas camisas da seleção, nem os movimentos sociais, nem os sindicatos, nem as oposições, nem os militares quiseram participar do movimento (mesmo sendo convidados). Tudo isso porque a pauta era só dos caminhoneiros, não era do Brasil. Afinal, existe um Brasil para cada categoria de brasileiro, não é mesmo? Um dia chegará a minha vez…

Sem julgar, nem precipitar juízo sobre o que quer que seja (deixo isso aos de plantão!) tenho apenas o desejo de externar uma visão que tive. Grotesca e deselegante, é verdade, mas que traduz muito do meu imaginário sobre esse momento em particular da nossa história.

Tive a cristalina visão de ver o nosso inderrubável presidente em pé, de frente para a nação, braço direito estendido para frente na horizontal, mão direita espalmada para cima e lentamente recolhendo os dedos, à exceção do médio (ou maior de todos), este era oferecido a nação com um sorriso malicioso a sussurrar: – Diga ao povo que fico! Vocês podem ir passando…

FRANCISCO JARISMAR DE OLIVEIRA (Mazinho)
Licenciado em História pela UFPB
Servidor Público Federal do IFPB