O estilo de vida americano
O Brasil é uma nação de espertos que reunidos, formam uma multidão de idiotas. (Gilberto Dimenstein)
Uma sociedade que não se enxerga não se descobre, que não se ama tampouco se respeita, que negligencia sua capacidade moral, intelectiva e fraterna, produtiva e autossustentável está galopando em busca do que não lhe pertence, do que jamais terá, do que em se plantando aqui nunca frutificará. Eis a massa brasileira que se nega a sonhar seu próprio sonho e se entrega à fantasia do american dream.
Aos desacordados, um banho gelado; aos insones, um dia mais longo; aos alienados, as primeiras horas do alvorecer da nova era social brasileira. Assim, resplandece no rosto de cada um a luz da desilusão e o que tanto defendia a pátria agora rasteja ao chão. Aos pés do poderoso Trump a soberania brasileira é negociada sem preço, sem troco e sem nenhuma cerimônia em meio a maior tietagem já vista em um encontro diplomático (para nossa perplexidade?).
Estamos imersos em um sonho e fantasia alheios. A cultura do american way life nos é vendida desde a década de 30 do século passado e, nos parece, chegamos ao ponto máximo. Alguém comprou todas as fichas e está apostando até a última delas no sonho do Brasil americanizado. Raul Seixas propôs alugar o Brasil, mas agora o preço caiu, agora é tudo free. “Tá tudo pronto aqui é só vir pegar”. Quanto a nós: “vamo embora dá lugar pros gringo entrar!” Afinal, “os estrangeiros eu sei que eles vão gostar. Tem o Atlântico tem vista pro mar. A Amazônia é o jardim do quintal. E o dólar deles paga o nosso mingau!”
Para os incautos de plantão é pertinente refletir que o american way life, ou estilo de vida americano é sinônimo de estados separados, com legislações distintas e solitários. As relações sociais vão do individualismo doentio à exacerbada competição. O estado mínimo e a disputa por espaço de sobrevivência econômica é um cenário que relega à sorte os que não vivem no american dream, apenas sonham-no.
Talvez, quando um dia compreendermos que cada nação faz sua própria história. Que cada povo é fruto de suas próprias memórias, epopeias, fábulas, mitos e lendas. Que nenhuma estrutura social pode ser transplantada de uma nação a outra. Que é ilusão crer que outros povos tenham as soluções para os problemas sociais por nós criados. Quem sabe, chegando esse dia, desnudaremos que o american dream é um sonho inalcançável para a grande maioria dos norte-americanos e que o american way life é um estilo em que o anfitrião oferece os sapatos para serem lambidos pelo convidado (o mundo viu isso!).
Porém, a maior ilusão é crer que a servidão voluntária seja alternativa a qualquer nação em franca decadência moral e política. A atual situação brasileira é fruto da frustração do povo, da miséria moral da classe política e de um escuso e lodoso judiciário. Paulo Francis nos advertiu que “talvez o Brasil já tenha acabado e a gente não tenha se dado conta disso.”
Contudo, acreditar que lamber as botas da CIA, FBI e do capital financeiro americano irá nos salvar de nós mesmos é o mesmo que cuspir para cima, arregalar olhos e esperar o resultado sem sentir-se humilhado, nem com baixa auto-estima. Por fim, um mantra de esperança: Deus a frente de tudo e Jesus na causa por todos.