O intangível tempo
Não se iludam. Não me iludo. Tudo agora mesmo pode estar por um segundo… (Tempo Rei – Gilberto Gil)
Falar sobre o tempo é refletir sobre os sinônimos perfeitos: nunca e sempre. A nossa relação com ele sempre foi construída em meio ao temor, a angústia, a impotência em um eterno estado de suposições. Esse guardião invisível, abstrato, que não nos dá cabimento, porém não se afasta de nós. Esse algoz a nos perturbar desde os primórdios e para o qual rendemos homenageamos em nossos extremos cronológicos. Soberano, imperioso, ilusório, místico, fantasioso, indiferente, transcendente e atemporal. Ei-lo.
Desde que aqui chegamos e nos facultou o raciocínio, na sua sombra nos debruçamos a elaborar as mais fantásticas aventuras para desvendá-lo, contá-lo, dividi-lo em quantos pedaços pudermos na tentativa de cativar algum domínio sobre a sua metafísica. Nos apropriamos de míseras partículas do seu imensurável todo quando estabelecemos os tempos cronológicos com seus relógios e calendários; nos tempos geológicos e suas mudanças na face terrestre e, ainda, no tempo histórico e as mudanças provocadas pela ação dos homens nas sociedades.
Muitas são as nossas versões para delimitá-lo. Para os judeus tudo começou a seis mil anos com a criação do universo. Já para os muçulmanos o ano da fuga de Maomé de Meca para Medina, em 622, dá início a contagem do tempo. Os cristãos e a sua popularidade no ocidente demarcaram o nascimento do Cristo como o ponto de partida da história e estabeleceram um tempo mais amplo com o antes de Cristo (a.C.) e o depois de Cristo (d.C.).
Para os maias, astecas, incas e outros povos pré-colombianos da América o tempo era um ciclo, uma repetição eterna. Este conceito se avizinha da ciência quando sir Isaac Newton, no século XVII, discorreu sobre um tempo “absoluto, verdadeiro e matemático, que transcorre uniformemente”. Ao que acrescentou Albert Einstein, já no século passado: “- Para nós, físicos presunçosos, passado, presente e futuro são apenas ilusões”.
Todo esse tracejar de notas sobre o tempo é para nos levar a uma simples reflexão: o tempo nos pertence enquanto aproveitamos o ensejo para fazer acontecer. Deixar para depois aquele abraço é endereçá-lo a um tempo sem direção conhecida e sem retorno possível. O tempo é agora, está aqui e não faz aniversário, não envelhece. Se não é o absoluto de Newton, nem o relativo de Einstein é o eterno e ininterrupto para todos nós.
Sejamos generosos no carpe diem. Não deixemos para daqui a pouco o que podemos fazer já. O ontem e o amanhã são rotas incognoscíveis, pois pertencem ao tempo, nunca a nós. Já o presente, este, sim, é nosso. Podemos plantar nele o que bem quisermos. E é esse o nosso único elo com o tempo – o agora. Mario Quintana, no poema O Tempo, lamenta: “- Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.” Para não perder tempo! Arremato.
Ame, grite, abrace, beije e viva intensamente cada instante. Não espere que uma simples mudança de ano cronológico venha a mudar sua vida. Você está no comando e pode mudar cada segundo de sua vida a despeito do tempo. Portanto, repito com Carl Sagan: “- Diante da vastidão do tempo e da imensidão do universo, é um imenso prazer para mim dividir um planeta e uma época com você.” Feliz vida! Feliz hoje!! Feliz agora!!!
FRANCISCO JARISMAR DE OLIVEIRA (Mazinho)
Licenciado em História pela UFPB
Servidor Público Federal do IFPB