Os “coxinhas” vão a Moscow

“Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock’n’roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta.”
(Chico Buarque)

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Francisco Jarismar de Oliveira | Colunista

Mais um mundial de futebol da FIFA e a euforia toma conta do povo brasileiro. No pais onde um jogador de futebol é milhões de vezes melhor remunerado que um professor;onde as torcidas “organizadas” protagonizam batalhas urbanas com homicídios cruéis e covardes;onde o sonho de muitos pais é que um dos seus rebentos abdique das ciências e das academias e vista a camisa da seleção, está lançada a sorte, vamos à Rússia tentar esfriar o quengo.

De chegada já nos deparamos com uma lembrança angustiante, de súbito nos vem a memória os “coxinhas” e suas camisas amarelas. O padrão da seleção nos remeteu aos movimentos “fora Dilma” e outros similares que não interessa citar. O legado do golpe de 16 está estampado no amarelado uniforme canarinho. Nunca imaginei que as cores da seleção brasileira me cobrassem uma memória tão chata!(olha que nem lembrei do 7×1).

Mas o que mais me chama atenção, ou melhor desvia a atenção, é o anestesiamento da população. Millor Fernandes já dizia que o futebolé o ópio do povo e o narcotráfico da mídia. Mídia esta que se refestela e se empanturra com o delírio das massas ante a disputa nos gramados e a fatura ampliada dos seus patrocinadores.

Se na Europa o futebol é um ótimo recreativo para as classes sociais, em terras tupiniquins, este mesmo futebol, é um poderoso anestésico. Faz com que 200 milhões se esqueçam, por um espaço de tempo,das mazelas que assolam o país e o carcomem. Que os levam ao sono profundo dos indiferentes. A pátria de chuteiras vai ao gramado com fome, doente, sem escolas e sem segurança, mas isso não importa – somos pentacampeões mundiais é o que interessa!

Somos felizes e só nos entristecemos quando não somos bem ranqueados pela FIFA (estamos atrás apenas da Alemanha! Uhu!), afinal de contassomos os melhores futebolistas do mundo, mesmo que no ranking da educação estejamos no 880 lugar (nesse mesmo mundo) e no ranking da UNESCO um em cada sete brasileiros está fora da escola. Já na seleção do projeto The Learning Curve (A curva do aprendizado) somos o penúltimo colocado (a Indonésia não é páreo para nós! Uhu!).

Na copa da violência temos 17 das 50 cidades mais violentas do mundo. No ano passado tivemos 70 mil óbitos violentos, ou 12,5% das mortes registradas nessa categoria no planeta terra. Ocupamos o 96º lugar no ranking de países menos corruptos em lista elaborada pela Transparência Internacional.

Por fim, segundo diagnóstico revelado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), ocupamos o 79º lugar entre 188 nações no ranking de IDH (Indicie de Desenvolvimento Humano) – aquele que considera os indicadores de educação, renda e saúde. E, sim, nos destacamos entre os 10 países com maior desigualdade social. Não tem para ninguém!

Bom, para uma nação que vive de futebol, carnaval e televisão, não poderíamos esperar muito, não é mesmo? Vamos fazer de conta que tá tudo bem e assistir aos jogos da seleção, de preferência na telinha da Globo, até porque lá tem o “coxinha” mais bem pago da seleção.

FRANCISCO JARISMAR DE OLIVEIRA (Mazinho)
Licenciado em História pela UFPB
Servidor Público Federal do IFPB