Singela homenagem às mães
Giovanny de Sousa Lima
A educadora esplêndida Odete Enedina de Sousa – minha heroína, minha mãe, e todas as mães deste planeta.
Para Sempre
Carlos Drummond de Andrade
Por que Deus permite
Que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite
É tempo sem hora
Luz que não apaga
Quando sopra o vento
E chuva desaba
Veludo escondido
Na pele enrugada
Água pura, ar puro
Puro pensamento
Morrer acontece
Com o que é breve e passa
Sem deixar vestígio
Mãe, na sua graça
É eternidade
Por que Deus se lembra
De tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo
Baixava uma lei
Mãe não morre nunca
Mãe ficará sempre
Junto de seu filho
E ele, velho embora
Será pequenino
Feito grão de milho
( Carlos Drummond de Andrade )
Ser mãe é estar em permanente estado de compromisso e responsabilidade imensa, pluralista e fundamental com seu filho, filhos e filhas. As tarefas, situações e condições que envolvem uma mãe de uma criança, adolescente ou adulto, oriundo do seu ventre ou não, diferentemente como o senso comum percebe, não é fácil. Há beleza, alegria, desafios, e que se repetem e se renovam na opção de ser mãe. E tal fato exige naturalmente comprometimento, dedicação constante, apoio, cooperação e monumental generosidade.
O ato de ser mãe, é portanto, coroado de complexidades, a exigir desta, consciência de sua condição de ser humano responsável por outro ser humano ou seres humanos. Mais que conviver com o filho ou filhos (as), as mães cuidam, educam, protegem, contribuem amplamente com a formação dos primeiros citados. As mães cumprem, portanto, uma função educativa. São educadoras genuínas, afetivas, pacientes, amorosas, extraordinariamente humanizadoras em suas relações com seus filhos e filhas, e muitas vezes para além destes, retroalimentando–os de autonomia, liberdade, independência, valores imprescindíveis para serem cultuados e desenvolvidos durante todo o transcurso de suas existências. A escuta, o diálogo, perseverança, resiliência, companheirismo são incorporados as competências, habilidades, aptidões e inúmeras atribuições das mães e por elas, comumente vivenciados, independentemente da posição que ocupam no contexto da estratificação social vigente. E isto é esplêndido, bem como revelador de suas conexões com o transcendente.
As mães nos ensinam a fazer as escolhas corretas, decisivas. São oceanos de potencial amorosidade, conhecedoras das potencialidades e limitações dos seus filhos. Concretamente, são presenças, partícipes formidáveis da existência dos citados. As mães são lindas, protetoras, muito fortes, sábias, especiais. Muito especiais. E não desaparecem de nossas vidas, mesmo quando “falecem”. As mães não são sepultadas jamais em nossas mentes e corações, ou seja, na mente e coração de filhos e filhas que lhes são gratos, reconhecidos por tudo que realizaram de forma prodigiosa e autêntica para os mesmos. As mães são e continuarão sendo, os suportes, as fontes, as pontes, os núcleos fundamentais para a evolutiva existência da humanidade e humanidades em todos os recantos deste planeta no qual todos nós estamos inseridos.
Amor incondicional na teoria e prática, harmonizada, sincera e fantasticamente, empáticas, cultivadoras e vivenciadoras da empatia. Exemplos e modelos de relacionamentos saudáveis. São empreendedoras, criativas, líderes motivadoras, pavimentadoras de nossa evolução e caminhada segura neste mundo instável, repleto de contradições e desafios. São suficientemente imprescindíveis para qualquer criança, jovem, adulto, e até idosos. Mestras na continua realização de papéis simultâneos complexos, constantes. Guerreiras cotidianas da paz e do saber amar. Fontes inesgotáveis de compaixão, ternura, doçura, partituras de serenidade á perfumar nossas almas. Reinvenção cotidiana de Deus em atos, atitudes, gestos, ações, posturas de amor.
Se pudéssemos optar pela presença de nossas mães durante o transcurso total de nossas existências, assim decidiríamos sem nenhuma hesitação. As mães como disse o poeta Carlos Drummond “Não deveriam morrer jamais”. Não morrem, expressivo poeta! Jamais morrerão em nossos corações e mentes.
Sem as mães, o mundo seria um caos extremo, um vazio pleno incomensurável, a barbárie perene. Minha mãe continua presente em min, no que penso, no que faço na multidimensionalidade de minha vida. E assim será.
As mães estão profunda e amplamente representadas nas artes plásticas, literatura, cinema, ciência, escultura, teatro, artesanato, música, entre outras produções e manifestações artísticas, educativas e culturais. Representações das mães nas artes, como a virgem do cravo de Leonardo da Vinci ( 1478-1480 ), mãe amamentando bebê – Renoir ( 1893- 1894 ), as três idades da mulher – Gustavo Klimt ( 1905 ), Barbara Hepworth – 1934, Mary Kelly (1973- 1979), Anna María Maiolino ( 1976 ), Elizabeth – Louise, Vigie – LeBron 1700, Mary Cassatt ( 1800 ), Paula Moclersohn-Becker ( 1906 ). Erámos seis de autoria Maria José Duprê, com enfase em Dona Lola. Já em Vidas Secas de Graciliano Ramos, onde sinhá Vitória ( personagem ) representa a força da mulher nordestina, as mães também se fazem presentes.
Na literatura brasileira as mães ocupam também espaços de relevância, basta que o leitor e leitora, leia obras, como as evidenciadas abaixo: Ana Terra de autoria de Erico Veríssimo, Dom Casmurro, de Machado de Assís, onde é bem destacado a extremosa, mãe de Bentinho, Dona Glória.
As mães, ainda, são partes constitutivas da literatura brasileira produzidas por autoras como Alice Ruiz, Carolina Maria de Jesus, Clarice Lispector, Conceição Evaristo. Todas, geradas com máxima qualidade e beleza.
Este modesto artigo destina-se as mães do campo e das cidades, agricultoras, camponesas, domésticas, empreendedoras, mães casadas, solteiras, viúvas, médicas, professoras, desportistas, provedoras, mães democráticas e socialistas do povo brasileiro. Á todas as mães avessas aos extremismos, intransigências, intolerâncias, violências, negacionismos. As mães rebeldes das justas causas. Mães comerciárias, operárias, terapeutas, arquitetas, engenheiras, profissionais liberais de todas as categorias.
As mães dos leitores e leitoras do radar sertanejo, e deste singelo artigo, a minha mais sincera homenagem. Milhões de palavras escritas, proclamadas, socializadas, são simbólicas, precaríssimas, para expressar principalmente meu amor, respeito, gratidão e louvação, á ti, ó mãe, Odete Enedina De Sousa. Inesquecível mãe que vive em meu ser.
Viva o Dia das Mães. Viva as mães de Bonito de Santa Fé, minha terra natal. Viva as mães de todo o sertão nordestino. As mães do Brasil e de todos os países.
Aos filhos e filhas em geral, inclusive aos meus filhos, recomendo: mais que presentes no Dia das Mães, sejam presenças fecundas, ativas, sublimes na vida de suas mães. Abraço fraterno aos leitores e leitoras deste modesto texto.
Referências bibliográficas:
ANDRADE. Carlos Drummond de – Para sempre. https://www.escritas.org/pt/t/10946/para-sempre. Acesso em 05/05/2024.
LOPES. Martha – Mães na literatura: conheça escritoras brasileiras que retratam a maternidade. https://quindim.com.br/blog/maes-literatura/. Acesso em 05/05/2024.
PEREZ. Luana Castro Alves de – Cinco mães da literatura nacional .https://mundoeducacao.uol.com.br/literatura/cinco-maes-literatura-nacional.htm. Acesso em 05/05/2024.
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Giovanny de Sousa Lima — Mestre em Educação pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB); especialista em Educação em Direitos Humanos e para os Direitos Humanos, também pela UFPB; psicólogo educacional; pedagogo; professor do Ensino Médio e do Ensino Superior em instituições da rede privada de João Pessoa, nas últimas três décadas; e ex-professor da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).Também é escritor e radialista.