Viva o dia da mentira!
“Vamos trabalhar para que os ricos fiquem mais ricos e para que graças a eles, os pobres por sua vez, sejam menos pobres” (General Presidente Costa e Silva)
Nas eleições de 1960 os cargos de presidente e vice-presidente eram votados em separado. Naquele ano o conservador Jânio Quadros (PTN) e o ex-ministro getulista (1953-1954) João Goulart (PTB) foram eleitos presidente e vice, respectivamente. Se Jânio prometia extinguir o populismo de Getúlio Vargas, tinha ao seu lado um herdeiro deste e, também, ex-vice presidente (1956-1960). Jango havia sido eleito vice-presidente de Juscelino Kubistschek com 500 mil votos a mais que o eleito presidente em 1955. Mas isso aqui não é aula de história, é uma conversa de mesa de bar. Sigamos.
Sete meses bastaram para que Jânio Quadro pendurasse a vassoura (não me pergunte o porquê) e Jango fosse elevado ao comando nacional. Os conflitos e a trajetória do governo Jango devem ser visitados nos livros e documentários sobre aquele tempo. Não vou relatá-los aqui. Nosso alvo são as pérolas do que se ouviu depois do golpe da madrugada do 10 de abril de 1964.
Tivemos 4 presidentes generais, Castelo Branco (1964-1967), Arthur da Costa e Silva (1967-1969), Junta Governativa provisória (1969-1969), Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), Ernesto Geisel (1974-1979) e João Baptista Figueiredo (1979-1985). Repressão militar, censuras, exílios, torturas, mortes, “desaparecimentos” foram o cotidiano nesses “anos de chumbo” e da “Cadeira do Dragão”.
Nossos compatriotas generais, bem como seus asseclas por todo o pais, também deixaram memoráveis pérolas em suas falas publicas. De um ponto a outro do país escapavam frases de incontrolável sinceridade, extraídas da mais profunda instrospecçao militar e que massageavam com pregos os tímpanos da nação. “Prefiro cheiro de cavalo do que cheiro de povo” disse o general Figueiredo. O último da linhagem que em seu discurso de posse jurou “fazer desse país uma democracia”, mas que na sua saída pediu para ser esquecido e honestamente desabafou: – Dizem que fiz um desgoverno.
Mas não fica por aí. O Jornal Nacional da Rede Globo, fruto e fã da ditadura militar, era o sonífero preferido do general Médici, a ponto do mesmo declarar: “-Sinto-me feliz todas as noites quando ligo a televisão para assistir ao jornal. Enquanto as notícias dão conta de greves, agitações, atentados e conflitos em várias partes do mundo, o Brasil marcha em paz, rumo ao desenvolvimento. É como se eu tomasse um tranquilizante após um dia de trabalho” e ainda completava: “O Brasil vai bem mas o povo vai mal” (Essa é de dar torcicolo na pituitária!)
A “malemolência” militar durou 21 anos, entre 1964 e 1985. E os próximos recortes me parecem bem atuais, mesmo 34 anos depois. “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil.” Não, essa não é uma fala do Paulo Guedes mas, sim, uma fala de Juracy Magalhães, ministro das Relações Exteriores no governo de Castelo Branco. Anos depois o presidente Richard Nixon (EUA) responderia para o general Médici que “Para onde o Brasil for, irá toda a América Latina”.
Temos ainda duas frases atualíssimas e que se encaixam perfeitamente no cenário político atual. A primeira, do governador de São Paulo, Adhemar de Barros (1963-1966) que disse: “Agora caçaremos comunistas por todos os cantos, mandaremos mais de 2.000, uma verdadeira arca de Noé, para uma viagem de turismo à Rússia”. A outra é uma vidência do general Figueiredo para um capitão no futuro: “Estou fazendo uma força desgraçada para ser político, mas não sei se vou me sair bem: no fundo o que gosto mesmo é de clarim e de quartel.”
Como tudo não passa de uma conversa de mesa de boteco, encerramos com a consagrada mesóclise de Janio Quadros: “bebo porque é líquido; se fosse sólido, comê-lo-ia”. Portanto, meu camarada, tomemos mais um trago, sigamos “caminhando e cantando e seguindo a canção” e viva o 10 de abril!